Ma Jian (1953- ) é um dos escritores mais corajosos e críticos da literatura chinesa. Em A Cozinha da Revolução (2004), lançado No Brasil pela Record em 2011, narra uma conversa entre um cético escritor de propaganda política e um doador de sangue profissional durante um jantar na casa do primeiro. O escritor fala acerca de um livro que gostaria de escrever, com personagens intensos que caracterizariam a verdadeira China. O livro se passa no início da política de reformas e de Portas Abertas, no final dos anos oitenta. O resultado é uma coleção de histórias que se enlaçam, marcadas pela crítica ao modo de vida entre o riso e o choro que a maioria das pessoas levam. Assim, na primeira história um jovem empreendedor constrói um crematório e passa seus dias buscando mortos já de manhã para seu negócio, e acaba por cremar viva a sua própria mãe que consente nisso. Na próxima história, uma artista de teatro encena uma peça na qual se deixa devorar por um tigre à vista de todos. Há outras histórias, mas talvez a culminação seja a saudade e a lembrança de um escritor de seu falecido cão, um animal de três pernas profundamente crítico da revolução e que descrê do sistema marxista-leninista. O cão morre quando alcança livros colocados em uma prateleira alta no escritório de seu dono, livros de Nietzsche, Schopenhauer, Freud e o “desacreditado” Hegel. Na verdade, morre intoxicado com a leitura. Essa é uma China em que as pessoas correm para comer, fazer sexo e ir às compras, que se preocupam em primeiro lugar com dinheiro e cupons de comida, onde o Partido decide sobre os principais aspectos do destino das pessoas. Ma Jian escreveu também Pequi em Coma, sobre os incidentes da Praça da Paz Celestial em 1989 e hoje vive em Londres.
Igor Zanoni
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