Este livro de Yan Lianke (1958- ) foi concluído em 2005, quando ainda devastava a China a grande epidemia de AIDS. Ele foi escrito particularmente visando a província de Henan, e um vilarejo parecido com o qual o autor nasceu. Aí Lianke passou meses pesquisando como a epidemia se alastrara, descobrindo no seu centro o ambicioso Ding Hui, que promete riqueza às pessoas da região se venderem seu sangue. A coleta generalizada sem os cuidados higiênicos devidos faz com que alguns anos depois de começada, a AIDS se anunciasse adoecendo e matando grande número de habitantes. As outrora florescentes aldeias fenecem, mas Ding Hui ainda sabe ganhar dinheiro fabricando caixões e arranjando fantásticos casamentos após a morte de jovens que morreram solteiros. A epidemia arrefece e a pobreza volta a se instalar nas aldeias quando Ding Hui morre após receber um golpe na cabeça desferido por seu próprio pai que não concorda com os valores do filho. Se a ambição domina o panorama do livro, talvez em uma crítica à China moderna e seus valores, o livro é permeado por rara beleza e delicadeza nas estórias de amor entre pessoas doentes, nos nomes de personagens como Lingling, Tingting, Xiaoming e outros, bem como no nome das aldeias como Aldeia Feliz, Aldeia dos Salgueiros, Aldeia das Águas Amarelas, Aldeia do Segundo Li ou de ruas como rua da Luz, rua da Felicidade e outras. O romance todo é narrado de forma pungente e comovida, o que fez Yan Lianke chegar a ter remorsos por tê-lo escrito. ( Yan Lianke, O sonho da aldeia Ding, Editora Record, Rio de Janeiro-São Paulo, 2010 ).
Igor Zanoni
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