domingo, 2 de outubro de 2011

Felicidade

Felicidade

A SS Dalai Lama sempre afirma que os seres humanos buscam alcançar a felicidade e abandonar o sofrimento. O objetivo do budismo como caminho de busca ética e compreensão das relações humanas visa exatamente esses dois pontos. A vida humana e de todos os seres é permeada pelo sofrimento, mas muitos que buscam alívio ainda insistem em vias dolorosas, como uma moral rígida ou permeada de autoritarismo. Muitos acham que a felicidade é para a outra vida, e que nesta é preciso prudência e vigilância, além de oração. Os santos da Idade Média flagelavam-se com cilício e outros meios de ampliar a coação sobre o prazer do irmão corpo. É verdade que o budismo prega uma moralidade, mas esta é lúcida e racional.  Passa por evitar os atos negativos da mente, da fala e do corpo, como forma de buscar o desapego e não fazer mal a nenhum ser. Por exemplo, o preceito sobre relações sexuais não é a abstinência, mas não fazer sexo impróprio, isto é, que pode trazer dano a alguém. Não por acaso a SS Dalai Lama tem se posicionado de forma mais flexível diante de temas como divórcio ou mesmo aborto. A concentração e a meditação levam a uma sabedoria feita de generosidade, compaixão, amor, bondade, alegria, e assim por diante, a uma real felicidade capaz de substituir a culpa e o remorso por uma profunda transformação do modo de perceber os seres e suas relações. Muitos vivem vidas ruins, tristes, mas pensam que se santificam com a comunhão e a piedade que inclui jejuns e diversas formas de despojamento, e essa é uma importante via para sua salvação. Mas sua confusão continua, inclusive porque seu desapego não diminui. Fica-se no mínimo apegado a essa figura melancólica que restringe os seres á família e aos que compartilham sua crença, ou a um ser sabe-tudo pronto a punir qualquer falta . O ceticismo fez crescer terapias não religiosas como as diversas formas de psicologia, mas em geral elas partem da identificação do desejo e de como pode ser realizado, desde que razoavelmente. O budismo vai além disso, mas mesmo chegar a esse ponto é doloroso. Pode-se admitir esse ou aquele desejo e manter uma autoimagem impecável? Por que buscar a felicidade? Porque é inerente essa busca ao ser humano, e não só a ele, mas a tudo que vive ou é autoconsciente. A felicidade consiste em cuidar de si e do outro, em viver vidas examinadas que nos livrem de dores naturais ou culturais. Não é necessário sofrer, é aflitivo e desumano.

                                         Igor Zanoni    

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