A literatura pode recriar a vida, de diversas formas, mas ela tem um espaço seu, particular. Ela pode ser comovedora, fazer-nos chorar ou compreender o obscuro de nossas vidas, mas não pode ser a vida jamais. A exasperação cotidiana, as mínimas tragédias do trabalho, do amor, das ilusões, tudo isso vivemos num espaço próprio, de cada um, que outros percebem, embora o partilhem, apenas de modo imperfeito. As alegrias também são coletivas e ao mesmo tempo tão próprias, que a vida é o único espaço no qual podemos nos refugiar, refugiar da própria vida. Mas a literatura está mais à mão que a vida como a desejamos. Por isso lemos tanto, buscando uma vida que não está nunca nela, senão como metáfora das nossas metáforas, sobre nosso osso inquieto.
Igor Zanoni
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