O escritor Wilson Rio Apa tem hoje 87 anos, mesma idade de Dalton Trevisan, mas nunca foi tão prestigiado como este. Eu sempre ouvi sobre ele, mas agora, lendo sua tetralogia, fui surpreendido por uma narrativa invulgar, nascida de vivências antigas nas ilhas do litoral paranaense, destacando-se Superaguy. O texto nada tem de urbano, tem como contexto um catolicismo popular sem igreja e sem padres, messiânico, a saga do Menino Santo. A personificação da Morte, as vicissitudes das almas , a comunicação entre vivos e mortos, a cura e o exorcismo do Mal, tudo flui entre elementos naturais da ecologia litorânea, peixes diversos, caranguejos, guaiás, cavernas, marés, os ofícios de pescador, canoeiro, as populações pobres que envelhecem se enraizando no solo arenoso de acidentes geográficos entre o real e o onírico. A poesia fluida, a linguagem serena posto que cultivada, as características formais do texto tornam-no gostoso de ler, cativam, amarram o leitor. Se Dalton sempre foi muito prestigiado pela academia e a crítica, por sua exigente prosa, seu conhecimento dos clássicos do conto, Rio Apa nunca teve o mesmo reconhecimento. Seus livros foram publicados pela Fundação Cultural de Curitiba, não se encontram em livrarias. Dalton fala de uma Curitiba antiga, não da metrópole que surge nos anos setenta, com o tema do desejo dominando outros. Rio Apa fala de um território mais remoto, desconhecido para mim, urbanoide, e se situa no terreno do mito. Vale a pena conferir.
Igor Zanoni
Nenhum comentário:
Postar um comentário