Meu pai estudou muito a Bíblia, de modo autodidata, como
era costume na época, mas não tinha fé, e seu amor era escasso. Como militar de
velha cepa, autoritário e positivista, estudou e frequentou assiduamente o
espiritismo kardecista, mas se desiludiu. Seu argumento favorito era que Alan Kardec
pretendia uma síntese entre religião, filosofia e ciência, mas nunca se decidia
onde se encontravam seus argumentos, em uma ou outra dessas áreas. Decidiu-se
por algo prático e individualista: tornou-se exímio praticante de certas
técnicas do Hatha Yoga. Era capaz de adormecer em meio a uma festa, em
segundos, controlando a respiração. Morreu assim, talvez sem perceber bem a
experiência da morte. Mas tratou de muitas crianças nos orfanatos de Campinas,
e fez com mamãe muita obra social nas igrejas pelas quais passou. Certamente se
salvou por suas obras.
Igor Zanoni
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