Nesta cidade onde os barbeiros são raros e idosos, há
um bom tempo faço a barba em uma galeria no centro com o Alberto. Professores e
barbeiros gostam de conversar e ele deve ter-me achado um sujeito da velha
guarda. Conta quando foi a um show do Abba e do cabelão que tinha naquele tempo
que não volta mais. Na semana passada eu esperava minha vez e perguntei se na
garrafa térmica ao lado do filtro havia ainda café. Como não houvesse, antes de me atender ele
perguntou se eu não queria tomar café numa lanchonete ali mesmo na galeria. Olhando
os vidros sob o balcão ele apontou para uns potes de sopa ao lado de sanduíches
naturais. Disse que sempre levava um pote de canja para tomar quando chegava em
casa e que era muito gostosa e custava cinco reais. Só para manter a conversa
achei caro, mas ele apontou para outra lanchonete onde o pote custava oito reais.
Mas antes de dormir ele comia um pedaço de pão com meio copo de café. Perguntei
se o café não tirava o sono mas não era o seu caso. Depois, mais reflexivo,
disse que em muitas noites ia ao banheiro e depois não conseguia dormir, que
talvez fosse mesmo esse último café do dia. Bem, o Alberto é um bom barbeiro e
me adotou como amigo, mas já conheço gente demais com insônia.
Igor Zanoni
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