terça-feira, 24 de junho de 2014

Alberto

Nesta cidade onde os barbeiros são raros e idosos, há um bom tempo faço a barba em uma galeria no centro com o Alberto. Professores e barbeiros gostam de conversar e ele deve ter-me achado um sujeito da velha guarda. Conta quando foi a um show do Abba e do cabelão que tinha naquele tempo que não volta mais. Na semana passada eu esperava minha vez e perguntei se na garrafa térmica ao lado do filtro havia ainda café.  Como não houvesse, antes de me atender ele perguntou se eu não queria tomar café numa lanchonete ali mesmo na galeria. Olhando os vidros sob o balcão ele apontou para uns potes de sopa ao lado de sanduíches naturais. Disse que sempre levava um pote de canja para tomar quando chegava em casa e que era muito gostosa e custava cinco reais. Só para manter a conversa achei caro, mas ele apontou para outra lanchonete onde o pote custava oito reais. Mas antes de dormir ele comia um pedaço de pão com meio copo de café. Perguntei se o café não tirava o sono mas não era o seu caso. Depois, mais reflexivo, disse que em muitas noites ia ao banheiro e depois não conseguia dormir, que talvez fosse mesmo esse último café do dia. Bem, o Alberto é um bom barbeiro e me adotou como amigo, mas já conheço gente demais com insônia.

                                                                     Igor Zanoni

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