a foto do rosto de um amigo nos coloca de forma
privilegiada e reflexiva diante de momentos que guardamos como os seus sinais,
por exemplo as ocasiões em que aquele pequeno entreabrir da boca surge em uma
conversa e o que implica, humor, ênfase, ironia. ainda que na foto ele procure uma
expressão adequada e enaltecedora de si mesmo, o si mesmo se compõe para nós em
recursos expressivos, talvez para ele ignorados e agora mais claros para nós
mesmos. a foto se desarraiga, se transborda, trai ao dizer uma certa verdade, a
nossa mais que a do amigo. o mesmo ocorre com as coisas que podemos escolher, nossa
classe social, nossa profissão, se a temos, nossa idade se inscrevem nelas. mas
também as que, na profusão de necessidades que nosso mundo cria como rendosos
cogumelos, e em especial, as que na nossa vida emocional podemos escolher mais
livremente, e que, por alguma razão, tiramos do mundo para as recolocarmos nele,
com alguma ilusão, como nossas coisas e nosso mundo, e assim dizermos como nós
somos. desta forma escolhemos certa camisa, um casaco pesado, um sapato e, já
fora do âmbito de uma foto mas ainda, digamos, na sua atmosfera, a música que
preferimos, as moças que nos atraem, o pendor para esta ou aquela visão da vida.
a foto mostra o que estamos preparados para ver nesse rosto. ela fala antes e
de imediato de nós mesmos, desarraigados, traídos. percebemos tudo isto o tempo
todo, e sofremos ou somos felizes, buscando nossa saída e nosso mais
concernente espaço.
Igor Zanoni
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