o que mais me parece característico na vida é o modo
como o seu espaço se oculta enquanto ação. já cedo pela janela do banheiro vejo
o céu claro e frio de outono mas não há como assaltá-lo nem o que fazer sob ele.
o mundo é feito em algum lugar mas não precisa nem quer de modo algum minha
colaboração. também não sei bem o que eu desejaria fazer. retomar a vida como
prazer, não como trabalho. muitos buscam a seu modo isso. filósofos e
cientistas sociais deixam para nós um:
isto é construído assim e assim, continuem se acharem interessante, nessa
direção. mas tudo me parece urgente, hoje temos de fazer muito ao mesmo tempo. conheço
muitas dívidas para com o futuro. mas antes de torná-lo já um pequeno espaço,
uma comunhão no mínimo simbólica, como a eucaristia ou algo assim, o espaço é
tomado pelos ruralistas e as grandes construtoras. ouvi muitas vezes: um outro
mundo é possível. tomara que estejam certos. mas esta é uma parte do problema. há
também muito que deixar de fazer, que esquecer, tantas obsessões inúteis e
perversas. se houver esse espaço- como haverá?- meu coração sairá para o céu
claro de outono, meus gestos serão mais precisos, meu corpo mais prazeroso,
falarei menos, lerei menos, comerei menos, beberei menos, esquecerei as igrejas
e os símbolos, e chegarei primeiro neste outro mundo, antes que seja ou não
possível.
Igor Zanoni
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