quinta-feira, 12 de junho de 2014

Pastel

desde o centro dito “histórico” de Curitiba, espalhando-se por avenidas que de largas e dinâmicas rápido se tornam mesquinhas, o trânsito congela as pessoas no tempo e no espaço, o dia se torna previsível e tedioso, o humor transmuta-se em revolta dos que se julgam ainda com direito de ir e vir mas nem vão nem vem, o que aos poucos percebem. o ar é uma mistura saturada de gases fósseis como a civilização, ainda que civilização pouco há exceto como farsa, as roupas a pele o cabelo tingem-se neste fog que sequer é marca de progresso, se ainda esta palavra cabe no mundo, mesmo onde se afirma a construção do socialismo, em Pequim digamos, ou onde jamais se pensou a sério nisto, Moscou ou Nova Iorque, muito menos entre nós onde só se afirmou desde o princípio uma monstruosidade que só deu à luz a si mesma, que prescinde a história se usarmos o termo com rigor. nas margens estreitas onde se incrustam pequenos negócios, pouco variados, uns parecidos com outros oferecendo mercadorias parecidas, como uma vasta coleção pobre e monótona, em exíguas lanchonetes mulheres cansadas e filhos ainda achando graça em tudo descansam por cinco minutos  em torno de refrigerantes com pastel e sachês de maionese, catchup e mostarda. o melhor da viagem é o lanche, o poder sentar-se, os meninos por ora quietos, e percebe-se com isto como as pessoas pedem pouco, suportam demasiado, são confinadas em espaços de sensibilidade, para não mencionar, é claro, o espaço do transporte coletivo, pois nos ônibus difícil é entrar ou encontrar com cotoveladas um banco para dormitar até o Xaxim, a CIC, Uberaba, Campo Comprido, Pinheirinho e outros lugares mais desassistidos para os quais há sempre ônibus, embora falte o resto.


                                              Igor Zanoni

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