desde o centro dito “histórico” de Curitiba,
espalhando-se por avenidas que de largas e dinâmicas rápido se tornam
mesquinhas, o trânsito congela as pessoas no tempo e no espaço, o dia se torna
previsível e tedioso, o humor transmuta-se em revolta dos que se julgam ainda
com direito de ir e vir mas nem vão nem vem, o que aos poucos percebem. o ar é
uma mistura saturada de gases fósseis como a civilização, ainda que civilização
pouco há exceto como farsa, as roupas a pele o cabelo tingem-se neste fog que
sequer é marca de progresso, se ainda esta palavra cabe no mundo, mesmo onde se
afirma a construção do socialismo, em Pequim digamos, ou onde jamais se pensou
a sério nisto, Moscou ou Nova Iorque, muito menos entre nós onde só se afirmou
desde o princípio uma monstruosidade que só deu à luz a si mesma, que prescinde
a história se usarmos o termo com rigor. nas margens estreitas onde se incrustam
pequenos negócios, pouco variados, uns parecidos com outros oferecendo
mercadorias parecidas, como uma vasta coleção pobre e monótona, em exíguas
lanchonetes mulheres cansadas e filhos ainda achando graça em tudo descansam
por cinco minutos em torno de
refrigerantes com pastel e sachês de maionese, catchup e mostarda. o melhor da
viagem é o lanche, o poder sentar-se, os meninos por ora quietos, e percebe-se
com isto como as pessoas pedem pouco, suportam demasiado, são confinadas em espaços
de sensibilidade, para não mencionar, é claro, o espaço do transporte coletivo,
pois nos ônibus difícil é entrar ou encontrar com cotoveladas um banco para dormitar
até o Xaxim, a CIC, Uberaba, Campo Comprido, Pinheirinho e outros lugares mais desassistidos
para os quais há sempre ônibus, embora falte o resto.
Igor Zanoni
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