segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Dalai Lama



O grande escritor Yasunari Kawabata, com uma obra voltada para o exame e cultivo da tradição cultural japonesa, quer inclui seu trabalho como ficcionista, disse que mesmo que o patrimônio religioso budista possa não ser aceito por muitos, é inegável o grande valor da literatura que originou. O primeiro escritor de prosa no país foi Mestre Dogen, além de grande poeta. No início do século XlX, Mestre Dogen, descontente com a situação do budismo japonês,  percebida no país como um darma que vivia um período de degenerescência, viajou para a China e lá encontrou uma tradição vigorosa no Zen(Chan) chinês, que reformulou na sua volta criando o Zen japonês na sua vertente Soto, hoje dominante. A preeminência da meditação sobre o ensinamento, a prática da atenção plena e a reafirmação do significado permanente do darma elaboradas por Dogen entre outras contribuições ao budismo podem ser encontradas em mestres contemporâneos como o vietnamita Tich Nhat Hahn e outros. As escrituras tradicionais budistas são encontradas em cânones diversos e não se pode ter uma unanimidade sobre grande parte do que o Buda Sakyamuni disse, mas serviram como permanente ponto de partida para retomadas sobre a visão fenomenológica do budismo sobre o sofrimento humano, a ética e a prática da compaixão, a interdependência entre os seres sencientes animados e inanimados, inclusive na construção da nossa visão do que acontece, entre outros de seus aspectos básicos. Graças ao líder espiritual do Tibete, o Dalai Lama, encontramos há algumas décadas no Ocidente não apenas ensinamentos sobre a felicidade e o bem-estar (muito popularizados por psiquiatras ocidentais), mas uma profunda erudição nascida na região desde o século Vl., que pode ser estudada em volumes como Pacificando o Espírito, Como um Relâmpago Rasgando a Noite, Dzogchen, por exemplo. Independente da avaliação que se faça da situação política do Tibete é inegável o valor de sua literatura e de sua cultura tão presentes neste homem pequeno e frágil fisicamente. Ainda que para o Zen japonês esta literatura não tenha o papel que possui para o budismo tibetano, este é sem dúvida um guardião e cultor de uma matriz sem a qual o budismo não pode ser compreendido ou praticado. No Brasil esta literatura tem sido um ponto de partida para diversas formas exitosas e cultivadas de um budismo com características de permanência e recriação, falando-se mesmo de um “budismo brasileiro”, sem esquecer outras formas sob as quais ele é cultivado no País.


Igor Zanoni

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