terça-feira, 15 de setembro de 2015

O Sentido da Colonização


perto de minha casa um rapaz já não muito jovem instalou uma pequena sapataria. não sei se terá muitos clientes com os sapatos tão baratos e descartáveis em muitas promoções e pontas de estoque por todo lado, mas é uma boa notícia saber que existe a habilidade de consertar sapatos pois as pequenas lojas e minúsculos negócios no bairro limitam-se a revender mil produtos  com utilidades desnecessárias por preços vis. um homem mais velho instalou uma loja de bijuterias que são pequenos cacos de metal dourado incapazes de durar um final de semana. a loja foi instalada na garagem de sua casa ainda não completamente construída e ele senta-se de shorts em uma cadeira de  cozinha olhando o mormaço parado da rua. todos precisam de um extra e o jeito é quase sempre mais ou menos esse, a não ser que se tenha mais dinheiro para construir e alugar essas lojas de baixo custo, altas e envidraçadas que podem ser alugadas para mais uma academia ou para uma revendedora de carros velhos e financiamentos exorbitantes. a  cidade vai se espalhando quase sempre sem qualquer beleza, sem qualquer permissão para o cultivo de si ou de relações interessantes, sem alegria ainda que com muito júbilo e louvor para quem é neopentecostal e tem um mínimo caminho para sua suposta salvação. os muitos escritores e interpretes de nossa formação social e econômica sempre enfatizaram o sentido dessa formação, ligado às transformações do mundo colonial e que tem em âmbito mundial relação com a força do capital imobiliário e suas conexões com o Estado, o agro e a grande finança . também viram nossa difícil existência como nação e povo e buscaram futuros alternativos em nexos de solidariedades relacionados à construção de uma cultura comum. no passado recente foram um chavão as vitórias políticas  graças a avanços contra a pobreza e à inclusão social, mas a face humana urbana e precarizada não excluiu um urbanoide estranho a si e a possibilidades mais interessantes de existência, sem paz, sem ideal, sem quase nenhuma ideia do cosmo do qual ele é um diário e insistente sobrevivente .



Igor Zanoni 

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