Guacira dizia que eu sempre vivia muitas estórias. era
uma crítica, ela achava que minhas estórias eram fictícias ou que eu embelezava
o que vivia. porém eu sempre pensei que entre a história contada e a vivida há
um pacto, nenhuma é real no sentido vulgar do termo, tudo é invenção, uma quase
história. Conceição Evaristo no seu belo Becos da Memória avisa logo de início
que conta o vivido e o inventado, inventar é dar maior relevo ao vivido. Cony
também escreveu um livro sobre seu pai que se chamava Quase memória usando o
mesmo diapasão. contar estórias é um dom, há quem não saiba contar. isso é uma
tarefa de velhos, que reúnem em volta de si as crianças mantendo com as estórias
as lembranças do povo. já eu acordo de manhã e penso: então, qual a estória de
hoje? e inventando crio ao meu redor um povo, meus amigos que me ouvem com seu
carinho nesse mundo que preciso ganhar mais graça para ser real.
Igor Zanoni
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