a moça morava na casa de esquina de nossa quadra, na
pequena cidade de fronteira em que papai servia o exército. era mulher de um
cabo que nunca vi. em sua casa havia um espaço com uma árvore baixa onde ela
prendia um quati manso que subia e descia os troncos. eu gostava de ver o
quati, que era rápido e bonito. na cidade, pensando nisso, não lembro de gatos
e cachorros, mas do quati e de bois e cavalos na rua, de um homem que tinha um
pequeno veado no quintal, e das galinhas que mamãe criava. acho que a moça
soube que seu marido a traiu, derramou sobre si o querosene de um lampião,
muito usado naquela cidade sem luz elétrica, e pôs fogo. soube do acontecido
por mamãe, achei horrível. nunca mais vi o casal, mas imaginei como a moça
teria ficado feia para sempre, ela que era uma moça faladora e nova, até
bonita. ganhei um enorme horror a queimaduras depois do acontecido.
Igor Zanoni
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