quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Queimaduras


a moça morava na casa de esquina de nossa quadra, na pequena cidade de fronteira em que papai servia o exército. era mulher de um cabo que nunca vi. em sua casa havia um espaço com uma árvore baixa onde ela prendia um quati manso que subia e descia os troncos. eu gostava de ver o quati, que era rápido e bonito. na cidade, pensando nisso, não lembro de gatos e cachorros, mas do quati e de bois e cavalos na rua, de um homem que tinha um pequeno veado no quintal, e das galinhas que mamãe criava. acho que a moça soube que seu marido a traiu, derramou sobre si o querosene de um lampião, muito usado naquela cidade sem luz elétrica, e pôs fogo. soube do acontecido por mamãe, achei horrível. nunca mais vi o casal, mas imaginei como a moça teria ficado feia para sempre, ela que era uma moça faladora e nova, até bonita. ganhei um enorme horror a queimaduras depois do acontecido.

                                                                  Igor Zanoni  

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