como uma norma de reprodução social, o capitalismo
deveria prover emprego digno e salário decente a todos com idade e condição de
trabalhar. é evidente que isso raríssimamente acontece, na verdade o
capitalismo promete emprego e entrega desemprego, promete fartura e entrega
escassez e pobreza, e isto por sua natureza intima de contradição entre o
capital e o trabalho e por sua forma de movimentar-se. isto exigiu
historicamente a assunção pelo Estado de um conjunto de políticas públicas que
remediasse esse não cumprimento de promessas. incluem-se aí gastos sociais e
produtivos, política monetária ativa barateando o dinheiro, criação de empresas
públicas, leis trabalhistas, a criação de um sistema de bem-estar para a
maioria, políticas de renda mínima e de aposentadoria e outras. no momento em
que se assiste a uma crise do capital, como ocorre desde há algumas décadas e
em especial desde 2007-2009, assiste a uma tentativa em muitos países de
abandonar esse aparato e desregulamentar a economia via privatizações, finanças
sadias, erosão das leis trabalhistas e tudo que poderia significar justiça
social. nisto consiste o chamado neoliberalismo praticado nos Estados Unidos,
vários países da Europa, Argentina ou, como sabemos, entre nós brasileiros. o
problema é que tudo isto acentua o açoite do capital sobre o conjunto da
sociedade, sem melhorar as condições sistêmicas em que opera o capitalismo. a
oposição ao neoliberalismo não é, como muitos ingênuos ou mal-intencionados
pensam, socialismo, mas uma forma de lidar com o moinho satânico do desemprego,
da privação e do autoritarismo.
Igor Zanoni
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