quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Contra o moinho satânico


como uma norma de reprodução social, o capitalismo deveria prover emprego digno e salário decente a todos com idade e condição de trabalhar. é evidente que isso raríssimamente acontece, na verdade o capitalismo promete emprego e entrega desemprego, promete fartura e entrega escassez e pobreza, e isto por sua natureza intima de contradição entre o capital e o trabalho e por sua forma de movimentar-se. isto exigiu historicamente a assunção pelo Estado de um conjunto de políticas públicas que remediasse esse não cumprimento de promessas. incluem-se aí gastos sociais e produtivos, política monetária ativa barateando o dinheiro, criação de empresas públicas, leis trabalhistas, a criação de um sistema de bem-estar para a maioria, políticas de renda mínima e de aposentadoria e outras. no momento em que se assiste a uma crise do capital, como ocorre desde há algumas décadas e em especial desde 2007-2009, assiste a uma tentativa em muitos países de abandonar esse aparato e desregulamentar a economia via privatizações, finanças sadias, erosão das leis trabalhistas e tudo que poderia significar justiça social. nisto consiste o chamado neoliberalismo praticado nos Estados Unidos, vários países da Europa, Argentina ou, como sabemos, entre nós brasileiros. o problema é que tudo isto acentua o açoite do capital sobre o conjunto da sociedade, sem melhorar as condições sistêmicas em que opera o capitalismo. a oposição ao neoliberalismo não é, como muitos ingênuos ou mal-intencionados pensam, socialismo, mas uma forma de lidar com o moinho satânico do desemprego, da privação e do autoritarismo.

                                                                 Igor Zanoni

Nenhum comentário:

Postar um comentário