no segundo ano da graduação meu professor de Geografia
Econômica, Tiago Beviláqua, me chamou para conversar e ofereceu um trabalho de
auxiliar de pesquisa na sua tese de doutorado sobre o setor externo da economia
brasileira. comentou que eu era um bom aluno, havia outro também muito bom mas
eu era preferido por ser de esquerda. achei estranho esse comentário, pois
nunca havia estudado Marx ou Lênin, como outros amigo meus, alguns inclusive do
PCB, e nunca havia refletido se eu era ou não de esquerda. mas hoje penso que
ser ou não de esquerda não tem tanto a ver com leituras mas com a história,
inclusive emocional, da pessoa. meu pai era bombeiro e músico, nasci na zona
norte do Rio, perto da Mangueira, no Hospital do Corpo de Bombeiros. meu pai depois
cursou Odontologia, fez concurso para o exército, onde serviu no corpo de
saúde, meu avô paterno também era militar, coronel engenheiro. sempre tive
muitas dificuldades com meu pai, certo dia chamei de “reacionário”, num ato
extremo de coragem de minha parte, mas gostava de seu trabalho e de sua
criatividade. hoje acho que ser de esquerda estava na minha massa de sangue,
nos romances de que gostava, nas brigas e na admiração por meu pai, na classe
média remediada a que eu pertencia. eu não escolhi a esquerda, ela me escolheu,
estava na minha natureza.
Igor Zanoni
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