O impulso para a destruição dos seres humanos nunca foi tão usado pela telinha que os vários programas de alguma espécie de luta livre. As antigas lutas livres da minha adolescência eram paródias das reais, relegadas aos submundos da cidade. Nelas havia galãs como Ted Boy Marino e anti-heróis como Phantomas. Tudo era planejado, os golpes e contragolpes, o andamento das lutas, seus resultados, lembrando uma série ou novela de tevê. Na atualidade as pessoas batem e apanham a valer, com quase nenhuma proteção, sangram a valer sem prestar atenção em possível contágio de doenças como aquelas que o futebol previne à menor gota de sangue. Meus filhos adoram, não se tornam violentos por isso, mas às vezes perdem o sono e lutam também, alguns deles. O menor de treze anos luta muay tay, o de 27 luta há muito tempo kung fu. Este último é pacifista e filosófico, o outro só quer gastar o máximo de energia contida em seu corpo. Como pai que fez psicanálise entendo que esse impulso sempre foi o mais usado nas artes modernas de grandes massas e deploro. Não consigo assistir a uma luta. Agora ela ganhou status oficioso com a transmissão de eventos pela Globo. Agora fazem parte da cultura brasileira, como os beijos entre gays e outras antigas proibições. Eu me preocupo com a Síria, o Afeganistão, as mortes urbanas vinculadas a milícias, tráficos, desastres com motos. É multiforme o impulso. Mas é claro, há agressão que não sangra. Houve um tempo em que o boxe também era luta dura ligada á máfia e ao tráfico de drogas pesadas, vide Raging Bull . E artistas do ringue como Muhammad Ali, politizado, preso por se opor ao Vietnam. Mas esperar disso do muay thay é absurdo. Ali a política não tem lugar porque o boxe era uma forma violenta de diálogo social. Quão perto disso está a luta livre?
Igor Zanoni
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