sábado, 3 de dezembro de 2011

Perda

o pior de uma perda não sentimos no momento em que a percebemos irreversível. o pior vem quando seu significado se torna mais complexo e preciso. quando percebemos uma paisagem mental e queremos discutir com a pessoa à qual ela se refere e esta já não está disponível para nós. quando se trata de uma perda marcante como a de um pai, muitas referências comuns passam a ser carregadas apenas por nós, já não podemos fazer nenhuma mudança juntos, nenhuma discussão. os que se foram são silenciosos e impõem a nós silêncios amargos. nós da era moderna aprendemos a analisar o nosso eu e a travar com ele uma discussão perene. mas esta não se faz sozinha, exige as pessoas que amamos, como testemunhas de nossa dor e de nossa alegria. elas revivem o coro das tragédias, que declara a verdade que sofremos. que somos nós sem essa verdade? ela não pode ser construída no nosso interior, exige outros atores, a trama, tudo isso que os outros também são. quando dizemos: quem viveu isso? podemos responder: fui eu?  tolice. fomos todos nós, todos nos remetemos, todos nos carecemos. a perda de um pai apaga pontos luminosos que jamais se acenderão de novo. e o mesmo se refere a outras perdas. choremos uns pelos outros, choremos por nós.


                                                    Igor Zanoni

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