O livro de Zuenir Ventura, publicado há já um bom tempo, sobre o ano de 1968, mostrava como a rebeldia tomou conta de operários, políticos e militantes contra o regime militar, ou contra o sistema capitalista e seus privilégios e injustiças congênitos, bem como de jovens e intelectuais que lutavam por novas formas de expressão pessoal, no plano da sexualidade, da herança artística e de nosso passado patriarcal e masculino. Passados tantos anos desde então, tudo mudou para continuar como era. Ou seja: o domínio do capital sobre as sociedades, mesmo quando estas continuam a expressar a recusa contra direitos negados em nome da salvação de especuladores e gênios construtores de crises e de guerras, continua tão ou mais forte que antes. Houve um 1968 da linha dura em todo o mundo, e uma rebeldia do capital contra qualquer forma de populismo, privatizando ainda mais o poder e a alça de mira. O resultado, no Brasil, é uma multidão sitiada, sem lugar no campo ou nas cidades, empurrados para a violência e a drogadição, no limite tentando encontrar-se em igrejas pentecostais que se abrem em cada estabelecimento comercial que fecha. Sem lugar no orçamento público corroído pela corrupção, depois de reservado espaço para os juros da dívida pública. Não há projetos consistentes, apesar do debate entre intelectuais bem intencionados, dado o poder das ONGs que se aparelharam no Estado e fecham a boca para despautérios como a construção de Belo Monte entre outros. A privatização ronda a educação pública, a saúde, o neoliberalismo toma outras formas mais sutis, sob aspecto popular e progressista. Realmente nem se pensava em tanto em 1968. A única coisa que ficou foi uma maior leniência para beijos gays na tevê ou cartilhas contra a homofobia nas escolas públicas. Mas fica tudo o mesmo. A mesma exploração do corpo feminino (e masculino), o ímpeto agressivo bem vindo aos índices de audiência dos programas de vale tudo, o poder dos bancos e da mídia. E um sensacionalismo rude que causa vômito quando se abre um site para examinar e-mails ou quando se leva um filho ao cinema, ou se ouve alguém que não é nem bom economista falar como pensador, tais como os Eduardos Gianettis da vida, defendendo o sagrado mercado, ou se divulgam os twiteres das atrizes globais buzinando tolices e brigando entre si.
Igor Zanoni
Nenhum comentário:
Postar um comentário