a arte é uma essência da vida cotidiana, o mundo é conservado
e transformado por razões banais ou críticas que apelam à arte. isto é óbvio em
um mundo no qual a arte da propaganda e da venda é crucial, e a própria sociedade
e a política precisam ser vistas como espetáculos falseados mas sempre em cena.
não temos, ninguém tem, conhecimento pericial da mercadoria que informa nosso
dia a dia. se uma pessoa toca um violão em família após o almoço ele sai do seu
cotidiano canhestro do trabalho e retorna a si mesmo, mesmo que manipulando
quem o ouve ou incitando neles cumplicidade. qual seria a alternativa? ele poderia
viver de outra forma? a mesma manipulação acontece se alguém leva a namorada a
um espetáculo no teatro ou vai só a uma cinemateca. todos precisam afirmar alguma coisa que identificam consigo,
salvar alguma coisa, há muito a arte não pode ser o espaço para quem está em
paz. alguns, raríssimos, fizeram da arte o caminho para a autotransformação e a
santidade. John Coltrane, por exemplo, buscou em sua curta vida uma saída de si
sem ser depois trazido de volta, usando entre outros recursos um novo jazz
incessantemente inventivo e novo. ele mesmo tinha consciência do espaço
particular que habitava.
Igor Zanoni
Nenhum comentário:
Postar um comentário