gosto muito de conversar, não tanto por falar muito
mas antes para escutar as pessoas. eu poderia ter usado esse talento e me
tornado psicólogo ou pároco, mas estes desejam curar a alma e eu tenho antes um
interesse modesto, etnológico. ouvir uma vizinha, por exemplo, em meu
condomínio, falar de seus filhos e de sua casa enquanto rega o jardim, deve ser
parecido com ouvir um indígena comentar sobre seu cotidiano enquanto pesca em
um rio distante. mas ouvir exige atenção para que, com um e outro comentário, se
possa conduzir, até certo ponto ao menos, a conversa, para que se possa fazer o
interlocutor dar algo precioso de si, sua intimidade e suas emoções banais e
corriqueiras. é uma festa gozar dessa intimidade, acho que isto nos torna
humanos, com a humanidade que falta na correria do dia. quando garotos temos
essa intimidade, que nos permite ficar longo tempo gastando tempo à toa, ou
fazendo algo que mais tarde nunca mais faremos, jogar botão ou fumar escondidos.
depois o dia se mecaniza, se padroniza de modo banal, o próprio riso se torna
um pouco estúpido mesmo que o riso seja algo que nos humaniza e atenua. o dom
da conversa resgata essa inocência perdida, mas é preciso dar um certo toque para
a conversa, possuir uma certa finura nada ingênua.
Igor Zanoni
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