sábado, 17 de setembro de 2016

O Inventor da Solidão




em certo ponto do caminho a memória torna-se uma tarefa específica, a de recuperar e conferir sentido a uma vida entremeada de personagens especialmente vigorosos, com as quais mantivemos e ainda mantemos uma relação em diversas paisagens geográficas e emocionais. esta relação, à medida que lembramos, recolhemos em histórias que confluem, como regatos que chegam a um rio maior, ou como histórias dentro de histórias, sejam as da vida cotidiana ou aquelas que lemos na infância, como a de Pinóquio, ou do profeta Jonas. estes submergiram no ventre de um monstro e na sua escuridão sentiram-se sozinhos mas capazes de articular a solidão com a memória e com uma liberdade enfim conquistada pela ação e pelo valor. a história se preenche pois com a relação ambivalente ( cálida entretanto) com o pai e a sua projeção no relacionamento com o filho, como o que veio antes e o que veio depois, como a pessoa que fomos antes e fomos mais tarde, a pessoa que inventamos, dando à palavra invenção sua carga de criatividade com a herança de nossa bagagem. assim fazemos nossa história no seu delicado e complexo percurso, até chegarmos ao momento em que colocamos, como no livro de Paul Auster, a folha em branco outra vez à nossa frente e só podemos escrever: “Foi. Nunca mais será. Lembre-se.”



                                                         Igor Zanoni

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