sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

O homem sobre a cidade



ele se apresentava em cidades maiores atravessando uma avenida em um cabo de aço ligado no alto de dois prédios. eu ia a circos, já havia visto artistas atravessarem um espaço  menor e mais baixo, mas quase igualmente perigoso, equilibrando-se em uma corda. não sei agora se ele usava mesmo um cabo de aço ou uma corda, mas era preciso olhar bem para cima quando o homem passou sobre nós no alto da Francisco Glicério, em Campinas. isso era muito diferente de um circo, e eu segurei a mão de meu pai. vi na televisão alguém fazendo o mesmo entre dois prédios altos, parece-me que em Nova Yorque, e recordei o que havia visto. agora não sei se confundi as lembranças. soube mais tarde que esse homem havia morrido em uma de suas apresentações, já não lembro se o homem de Campinas ou o Nova Yorque. mas talvez nenhum dos dois tenha morrido, nem se apresentado tantas vezes, pois era muito ousadia. posso também ter pensado que ele morrera por assistir depois um filme sobre Houdini e o que havia acontecido em sua trágica última apresentação. não posso dar a você certeza de nada que aconteceu, se aconteceu mesmo, em uma tarde em Campinas. mas fiquei muito emocionado com isso, meu coração ficou pequenininho.

                                                            Igor Zanoni

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