acho que meu pai gostava de ir tanto à
Sears para ver uma amostra da prosperidade americana. a loja tinha diversos
andares envidraçados nos quais eram oferecidos de bicicletas com marcha, um de
meus sonhos à época, a lanchas para o final de semana na praia, o que incluía radiolas
de madeira de lei, geladeiras, televisores e muitos outros míticos produtos que
não se achavam com facilidade no bairro onde morávamos. minha família comprou
uma das primeiras tevês do Castelo, uma Silvertone, marca dos produtos que a
Sears comercializava, preto e branco, pequena e cheia de válvulas que viviam
queimando. quando a tevê parava de funcionar para nossa consternação, logo dizíamos: deve
ser uma válvula, e de fato encontrávamos, olhando atrás do aparelho uma delas esfumaçada
por dentro do seu vidro como uma lâmpada queimada. tínhamos então de chamar um
técnico para trocar a válvula e voltar a assistir os nossos programas. entre
seis da tarde, hora do Pullman Júnior, patrocinado pelo pão fatiado com a
novidade da sua “micro textura”, e de sua “gostosura”, apresentado por Cidinha
Campos, que depois foi deputada no Rio. os garotos de perto de casa nesta hora
tomavam banho, se arrumavam e assistiam comigo quietos, sob vigilância de minha
mãe, Roy Rogers e Reizinho, assim como Tom e Jerry e o Woodypecker . Meu
favorito era Roy Rogers, com sua mulher Dale Evans, seu cavalo branco de crinas
longas Trigger, o cão pastor Bullet e Pat com seu jipe. não me lembro de mamãe
ir à Sears, acho que nunca foi. meu pai comprava sozinho o que achava
necessário para a casa. comprou, por exemplo, mais tarde, uma geladeira
Brastemp, de oito pés, com duas portas, para substituir nossa velha Frigidaire branca, com um pequeno
congelador metálico que logo se entupia de gelo, e arredondada. como a nova
geladeira era vermelha, minha mãe detestou, o que originou uma das contínuas
brigas em casa.
Igor Zanoni
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