segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Sears


acho que meu pai gostava de ir tanto à Sears para ver uma amostra da prosperidade americana. a loja tinha diversos andares envidraçados nos quais eram oferecidos de bicicletas com marcha, um de meus sonhos à época, a lanchas para o final de semana na praia, o que incluía radiolas de madeira de lei, geladeiras, televisores e muitos outros míticos produtos que não se achavam com facilidade no bairro onde morávamos. minha família comprou uma das primeiras tevês do Castelo, uma Silvertone, marca dos produtos que a Sears comercializava, preto e branco, pequena e cheia de válvulas que viviam queimando. quando a tevê parava de funcionar  para nossa consternação, logo dizíamos: deve ser uma válvula, e de fato encontrávamos, olhando atrás do aparelho uma delas esfumaçada por dentro do seu vidro como uma lâmpada queimada. tínhamos então de chamar um técnico para trocar a válvula e voltar a assistir os nossos programas. entre seis da tarde, hora do Pullman Júnior, patrocinado pelo pão fatiado com a novidade da sua “micro textura”, e de sua “gostosura”, apresentado por Cidinha Campos, que depois foi deputada no Rio. os garotos de perto de casa nesta hora tomavam banho, se arrumavam e assistiam comigo quietos, sob vigilância de minha mãe, Roy Rogers e Reizinho, assim como Tom e Jerry e o Woodypecker . Meu favorito era Roy Rogers, com sua mulher Dale Evans, seu cavalo branco de crinas longas Trigger, o cão pastor Bullet e Pat com seu jipe. não me lembro de mamãe ir à Sears, acho que nunca foi. meu pai comprava sozinho o que achava necessário para a casa. comprou, por exemplo, mais tarde, uma geladeira Brastemp, de oito pés, com duas portas, para substituir  nossa velha Frigidaire branca, com um pequeno congelador metálico que logo se entupia de gelo, e arredondada. como a nova geladeira era vermelha, minha mãe detestou, o que originou uma das contínuas brigas em casa.

                                                Igor Zanoni

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