quarta-feira, 18 de março de 2015

Os sons da noite


a arte culinária de mamãe melhorou muito na Igreja Adventista. aprendeu a fazer uma cerveja caseira muito boa, com as longas hastes do lúpulo e malte. eu ajudava como sempre, colocando tampinhas nas garrafas com um instrumento que papai havia comprado. as garrafa eram colocadas em posição horizontal em uma prateleira e ali fermentavam. mas a fermentação acho que se dava meio sem controle, e muitas garrafas estouravam enchendo minha noite de novos sons. nada como uma boa mãe mestre cervejeira. mas ela aprendeu também, para as muitas festas caseiras da época, a fazer balas de coco, das que se usavam em aniversários embrulhadas em papel de seda com franjas, azul ou rosa. é difícil fazer balas de coco. é preciso dar uma certa consistência à calda de açúcar e coco ralado puxando-a de um lado a outro da cozinha, dobrando e voltando a puxar até poder ser cortada. as balas quentes eram um caramelo pastoso muito bom, depois esfriavam se tornando balas que dissolviam na língua. embora minha mãe brigasse para eu não mexer nas balas, era muito bom entrar em silêncio de noite e comê-las ainda na sua etapa de caramelo, o que infelizmente não consegui fazer tantas vezes quanto queria. mas não foi uma derrota total.


                                                                             Igor Zanoni


                                                                          

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