o doutor, que conheço há muito tempo, tem mais ou
menos a minha idade, foi criado até os seis anos em uma colônia de imigrantes
japoneses no Paraná e só aprendeu o português ao entrar no primário. conhece a
cultura de que é originário em grande parte pela literatura. leu por exemplo
todos os livros de Kawabata diversas vezes, entre outros grandes autores
clássicos, mas sabe que o Japão moderno é bem outro. possui um espírito público
bastante arraigado, atende poucos amigos fora do sistema público de saúde, e um
filho é oficial na fronteira com a Venezuela, onde apenas o Exército organiza a
vida local. gosta de conversar comigo porque talvez não tenha chance de fazer
isso com outros clientes e envereda por discussões que não tenho como dar
conta. perguntou-me, depois de analisar a atualidade do país sob diversos
aspectos, por que na faculdade sempre se criticava o positivismo e o que este
tem de errado. deu exemplo: na bandeira nacional o lema “ordem e progresso” é
positivista, mas por que no país não há ordem e progresso, se isso é uma
aversão ao positivismo. na hora eu apenas disse que ele tinha toda razão mas
depois a Stéfanie, com quem comentei o encontro, com seu pragmatismo lembrou
que o doutor poderia ter perguntado também de onde viemos e para onde vamos.
Igor Zanoni
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