domingo, 1 de março de 2015

Positivismo


o doutor, que conheço há muito tempo, tem mais ou menos a minha idade, foi criado até os seis anos em uma colônia de imigrantes japoneses no Paraná e só aprendeu o português ao entrar no primário. conhece a cultura de que é originário em grande parte pela literatura. leu por exemplo todos os livros de Kawabata diversas vezes, entre outros grandes autores clássicos, mas sabe que o Japão moderno é bem outro. possui um espírito público bastante arraigado, atende poucos amigos fora do sistema público de saúde, e um filho é oficial na fronteira com a Venezuela, onde apenas o Exército organiza a vida local. gosta de conversar comigo porque talvez não tenha chance de fazer isso com outros clientes e envereda por discussões que não tenho como dar conta. perguntou-me, depois de analisar a atualidade do país sob diversos aspectos, por que na faculdade sempre se criticava o positivismo e o que este tem de errado. deu exemplo: na bandeira nacional o lema “ordem e progresso” é positivista, mas por que no país não há ordem e progresso, se isso é uma aversão ao positivismo. na hora eu apenas disse que ele tinha toda razão mas depois a Stéfanie, com quem comentei o encontro, com seu pragmatismo lembrou que o doutor poderia ter perguntado também de onde viemos e para onde vamos.


                                                                    Igor Zanoni

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