a palavra “tártaro” lembrará aos amantes de literatura
o Deserto dos Tártaros, de Dino Buzzati, livro de 1940 discutindo a necessidade
dos seres humanos de conferir significado à sua existência. o território
tártaro, por sua vez, evocará nos amantes de história e das lutas sociais a
República Tártara, fundada em 1920, e seu dirigente Sultan Galiev, que defendia
que os povos muçulmanos são povos proletários prontos para passar de uma
sociedade pré-capitalista para uma socialista. Por esta heresia foi excluído do
PCUS por Joseph Stálin em 1923, depois deportado para o Mar Branco em 1929 com
uma sentença de dez anos de trabalhos forçados. para os dentistas, porém, tártaro é antes uma placa bacteriana que
endurece o esmalte por má escovação. meu pai, que tinha o nome indiano de
Siddhartha, e que entre muitas aptidões era dentista em Campinas, odiava os
clientes com muito tártaro, por lhe parecerem pouco atentos a algo tão
fundamental quanto escovar os dentes diversas vezes ao dia. Krishnamurti, do
qual meu pai tinha alguns livros na sua heterogênea estante, afirmou que o
pensamento oriental é uma vasta projeção da Índia, mas, talvez como
compensação, nunca esqueço um dito de minha amiga Nádia, respeitada socióloga curitibana
com origem no Leste europeu: “ir ao dentista é tão chato que se deveria ganhar
depois um doce”.
Igor Zanoni
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