quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Livre-associação : lições da experiência asiática


 
a palavra “tártaro” lembrará aos amantes de literatura o Deserto dos Tártaros, de Dino Buzzati, livro de 1940 discutindo a necessidade dos seres humanos de conferir significado à sua existência. o território tártaro, por sua vez, evocará nos amantes de história e das lutas sociais a República Tártara, fundada em 1920, e seu dirigente Sultan Galiev, que defendia que os povos muçulmanos são povos proletários prontos para passar de uma sociedade pré-capitalista para uma socialista. Por esta heresia foi excluído do PCUS por Joseph Stálin em 1923, depois deportado para o Mar Branco em 1929 com uma sentença de dez anos de trabalhos forçados. para os dentistas,  porém, tártaro é antes uma placa bacteriana que endurece o esmalte por má escovação. meu pai, que tinha o nome indiano de Siddhartha, e que entre muitas aptidões era dentista em Campinas, odiava os clientes com muito tártaro, por lhe parecerem pouco atentos a algo tão fundamental quanto escovar os dentes diversas vezes ao dia. Krishnamurti, do qual meu pai tinha alguns livros na sua heterogênea estante, afirmou que o pensamento oriental é uma vasta projeção da Índia, mas, talvez como compensação, nunca esqueço um dito de minha amiga Nádia, respeitada socióloga curitibana com origem no Leste europeu: “ir ao dentista é tão chato que se deveria ganhar depois um doce”.



                                                  Igor Zanoni



                                                           

Nenhum comentário:

Postar um comentário