quarta-feira, 1 de junho de 2011

Emprego versus Violência:uma falsa alternativa?


Emprego versus Violência: uma falsa alternativa?




            Muitos se espantam com o aumento da violência em Curitiba, para ficarmos apenas nesse caso, e a diminuição bastante acentuada do nível de desemprego. O que estaria acontecendo? Vamos tentar raciocinar.
            A meu ver, há nesse espanto um preconceito que liga o desempregado ou o pobre ao ser incapaz de viver em sociedade, e por isso violento. Lembremos que os baixos níveis de desemprego não captam milhares de pessoas que estão totalmente à margem do mercado de trabalho, e se situam em zonas fora do alcance de grande parte das políticas públicas e nem têm possibilidade de encontrar um emprego. Mesmo quem tem um emprego, em geral tem um baixo rendimento se considerarmos o rendimento familiar e as necessidades básicas da família. Visando essas pessoas é que o governo Lula implantou o programa Bolsa Família, e agora o governo Dilma está implantando um programa que atinja aqueles que vivem em situação de miséria extrema. Certamente, programas como esses auxiliam muito a manter saudáveis as famílias e diminuir o grau de tensão na sociedade. Esses programas precisam ser seguidos, entretanto, por um avanço nas nossas precárias políticas de saúde e de educação, entre outras, bem como pela solução de problemas crônicos no país como o conflito agrário.
            Por outro lado, uma pesquisa divulgada esta semana para a cidade do Rio de Janeiro indica que os crimes na cidade são devidos, pela ordem, às milícias paramilitares, aos traficantes, assassinatos ocasionais e crimes passionais. Percebe-se que o problema da violência é mais fundo e mexe com o tecido social e político brasileiro de uma forma diferente da disjuntiva emprego versus violência. Os crimes violentos têm raízes, na maior parte das vezes, distantes do fato de quem os comete poder contar com um emprego. Lembremos que uma sociedade afluente como a norte-americana sempre se caracterizou por muita violência praticada dentro e fora do país. A Europa e países como a Nova Zelândia e a Austrália, ao contrário, têm um passado diferente, devido ao elaborado desenho do sistema de proteção à renda, ao emprego e à vida. Esse sistema só pôde ser construído através de partidos populares como a social-democracia, a democracia cristã e partidos populistas como o Partido Democrata norte-americano na época de Franklin Roosevelt, John Kennedy ou Lyndon Johnson.
            Quando pensamos no Brasil, vemos que nos faltam partidos e atores políticos da mesma densidade, capazes de criar laços de solidariedade profundos como os daquelas sociedades. Vemos, atualmente, que a crise econômica em 2011 levou a uma austeridade fiscal na Europa que foi prontamente denunciada por protestos públicos para que o sistema de bem-estar social, que protege trabalhadores e não trabalhadores, não fosse tocado por programas fiscais rígidos.
            Muitos pensam na educação como uma grande solução para quem não encontra emprego. Mas mesmo os que buscam um emprego, em geral mal remunerado, no caso do Brasil, podem ter alta escolaridade e não encontrar esse emprego. O mercado de trabalho exclui os mais jovens, os trabalhadores acima de quarenta anos e outros segmentos. Discrimina negros, pessoas que não tenham relações afetivas estáveis e assim por diante. Desta forma, a questão da violência não está diretamente ligada ao emprego. Há ainda a questão das drogas ilegais, problema que exige uma discussão de soluções criativas e mesmo inéditas. Quanto às drogas legais, é claro que quem tem um bom emprego e um bom salário pode comprar, por exemplo, o melhor whisky e o melhor champanhe.

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