quinta-feira, 30 de junho de 2011

Nuvem



Nuvem

1
debruçado no banco do ônibus
sobre um livro que marcava com lápis
um homem com trinta e poucos anos
de aparência pouco usual
sapatos grossos camisa de manga curta
calça social óculos fortes cabelo claro revolto
indiferente ao trajeto lia
indiferente a mim professor desde jovem
talvez ele fosse também professor
mas fantasiei que era um estudioso
dessas coisas que para mim são como nada
teorias da nova acrópole ou da gnose
seria um filósofo?
um homem capaz de examinar-se
de cuidar de si
em um tempo que se precipita
para o degelo total do polo norte
e a severidade dos cortes fiscais e salariais
banem esperanças e eventuais soluções
como energias renováveis inovação
capital humano
meu filósofo talvez pense em amor
 laços duradouros cuidados fraternos
será o homem que nos falta
ou um excesso que o mercado jogará
de bom grado para o ar
no próximo tsunami financeiro?

2
quando eu passar para a outra
quero estar olhando uma nuvem
concentrar-me nela
ver como o céu não a conduz
e sem perceber como
fazer meu seu caminho


                                                       Igor Zanoni

Nenhum comentário:

Postar um comentário