quarta-feira, 29 de junho de 2011

Sunday

Sunday

Nos mais de quinze anos que estou na Economia da UFPR vi poucos alunos negros ou mulatos no curso. Conto nas mãos, em geral pessoas mais velhas, trabalhadoras em postos médios em empresas da Região metropolitana, de pouca leitura, afáveis, singelos. Professor negro eu nunca vi, apenas um ou outro mais mulato, vindo do Rio para cima, algum preparado professor ou professora do Espírito Santo ou Nordeste. Pois nestes dois últimos semestres tive o prazer de conhecer o Sunday, um rapaz de Benin que veio fazer graduação na escola e assistiu a dois cursos meus. É muito jovem, 21 anos, bonito, forte, bem escuro, de pai árabe, uma família unida por laços de parentesco próprios de sua origem, com vinte irmãos. A mãe dele é uma das cinco esposas de seu pai, um fazendeiro bem sucedido, de família antiga. Sunday é poliglota, fala e dá aulas de francês e inglês, é fluente em árabe, em português e no seu dialeto materno. È um rapaz inteligente, participativo, sereno. Hoje de manhã quando estava me preparando para participar em uma banca de monografia no pátio interno do prédio, vi uns dez ou mais jovens, entre os quais Sunday, em um rebuliço ainda adolescente entrar no prédio. Todos muito escuros, contrastaram logo o ambiente um pouco incolor do nosso andar. Sunday veio me cumprimentar e disse que eram todos amigos de um deles, que defendia naquele momento sua  monografia. Não sei se todos eram alunos da UFPR, provavelmente sim. Por menores que sejam, como carioca, meus pruridos de preconceito não pude deixar de sentir o impacto da alegre invasão colorida. Gostei muito desse gesto deles, que me transtornou um pouquinho. Sabia que Sunday tinha muitos amigos em Curitiba, viaja pelas várias regiões do país e da América Latina e deve ter um futuro em algum lugar da Europa, se depender dele. Os amigos também. Mas ele ama também a África, diz com orgulho: somos quase um bilhão de pessoas. O que esse bilhão pode fazer o futuro dirá, já estamos vendo como se movem no norte do continente que os Estados Unidos querem dominar com novos atores políticos junto com toda a Otan. Hoje me ficou a imagem de vigor e alegria desse punhado de amigos que parecia uma pequena festa particular. Uma festa na Economia? Que idéia singular tiveram! Espero seus amigos em meus próximos cursos.

                                                                        Igor Zanoni

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