Pessoas difíceis
Em Silogismos da Amargura Cioran narra que ao terminar o curso de Filosofia pediu a um professor orientação para um trabalho que denominaria Teoria Geral das Lágrimas. O professor respondeu placidamente que julgava não haver uma grande bibliografia sobre o tema. Cioran respondeu: “Eu tenho toda a história humana à minha disposição para consulta”.
Muitas pessoas não se sentem sofrendo, ou não percebem o sofrimento que têm ou provocam. Mas penso que a maior parte tem essa queixa: “Minha vida é difícil” ou “Eu sou uma pessoa difícil”. Um dos ensinamentos básicos do budismo tibetano é exatamente a percepção do oceano de sofrimento em que está imersa a vida humana. O cristianismo também fala da salvação do nosso sofrimento, desde agora e para sempre, após a morte. A comunhão católica é a participação no sofrimento de Cristo na cruz para salvar a humanidade e o mundo todo. Se Deus é o Pai, Ele também esteve de alguma forma presente no sofrimento na cruz. O reconhecimento do sofrimento é pois o primeiro ato do ser cristão. Muitos não têm afinidade com religiões, mas mesmo assim pensam em uma utopia que elimine o sofrimento, como mudanças políticas e econômicas ou o desenvolvimento da ciência e da técnica. Toda a onda de medicamentos que ajudem a melhorar a qualidade de vida, como antidepressivos e energéticos radica aí. Pessoalmente, fiz anos e anos de psicanálise para descobrir que o sofrimento não era tão assustador e podia ser tolerado ou entendido. Mas não há quem seja fácil, ou tenha vida fácil. As minhas dificuldades eu combato trabalhando, escovando os dentes, levando meu filho com seus amigos ao cinema e assim por diante. Talvez um passo fundamental para lidar com a amargura seja não se deixar levar pelo fato de estar sofrendo, ou estar sendo feliz, por ser amado ou por não ser amado, por ser ou não elogiado e assim por diante, como ensinam os Oito versos que transformam a mente, um pequeno sutra mahayana. Isso não é indiferença, é serenidade.
Igor Zanoni
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