sexta-feira, 22 de julho de 2011

Roda-viva

Roda-viva


Quando Chico Buarque falou em como a roda-viva nos empolga e leva sempre além de nossa velocidade e desejos, usou imagens idílicas e antigas como pião, moinho, roda gigante, mas a nossa vida parece correr muito mais veloz do que essas imagens sugerem. A vida mais banal é tecida pelo vencimento de prestações, o dinheiro curto, levar as crianças para lá e para cá, acompanhar torneios esportivos, experimentar uma nova marca de cerveja, comprar contrafilé para o almoço em família no sábado. Além disso, trabalhar não é fácil, o clima no emprego é de luta pela vida, fazer uma entrevista é angustiante e os horários são rígidos, há sempre alguém atrapalhando as coisas. Há ainda as pulsões originárias, o desejo que se estende pelo mundo e se bifurca em mil caminhos sinuosos e oníricos, quando não prosaicos e cheios de culpas. As relações entre os vizinhos são uma comédia à parte, falar com o síndico do prédio quase exige a companhia de um advogado, os filhos quando crescem inventam seus caminhos que nem sempre são na nossa mente promissores. A roda gira rápida e banalmente. E dentro de marcos moral e legalmente sancionados. Se quisermos inventar é preciso uma dose extra de coragem. Na televisão há um jogo entra Barcelona e Manchester, e já somos levados a torcer por um deles, isso nos divide. o jogo é descrito pelo narrador de modo a nos fazer acreditar que ele é o maior espetáculo da terra, depois vamos aos comentários do jogo na internet, dando uma espiada na banalidade das opiniões expostas ali. A nossa vida é feita de factoides, nada de importante acontece, ou acontece, mas diluída em muitos espelhos, fragmentários, insípidos. mas como nos empolga! Como nos exige como escravos obedientes da mesma luta na arena contra tigres e leões. Para prazer dos césares, mas quem é o césar? Temos de ler no jornal ou ver na tevê, que o césar está sempre mudando, assim como as bolsas mundiais e o clima. Haja alma para suportar essa roda vida nada nostálgica, prosaica, crua, burra. Não vou tirar nenhuma conclusão moral daqui ou dar alternativa. Apenas constatar como se vive mal e porcamente, como dizia minha mãe.

                                                           Igor Zanoni

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