Pais e filhos
Com uma frequência espantosa os pais são insensatos, voluntariosos, egoístas, e seus relacionamentos são uma crônica de uma morte anunciada, como diria Garcia Márquez. Brigam a maior parte do tempo e quando se separam para evitar mais brigas continuam brigando por mil motivos pessoalmente, por telefone, através de amigos, parentes, advogados e juízes. As crianças diante disso devem se portar de maneira inteligente, compreendendo o que se passa e que ninguém sabe o que é: fazer sua parte no embrulho familiar do qual ela é o recheio. Quando são honestos, os pais ainda tentam dialogar com os filhos. Lembro-me de uma tentativa de meu velho pai argumentando com os rebentos: “Eu sou como vocês, só sou mais velho, mas tirando isso, igualzinho”. Eu entendi como pude. Mas os filhos quando são de certa condição social e estudam, demonstram muitas vezes a perigosa propensão para o raciocínio. Uma antiga colega de trabalho tem uma filinha e tentava fazer com ela ajudasse na casa, justo na hora em que esta estava deitada no sofá assistindo televisão. Quando a mãe insistiu no pedido ela respondeu com ar filosófico: ”Eu não estou com vontade, e quando não estou com vontade, não tenho de fazer isso”. Deve ter aprendido isso da própria mãe ou de outro adulto. Para lembrar outra vez meu saudoso pai, ele sempre repetia: “A educação é uma luta entre duas vontades”. Isto porque se abole de início as possibilidades de examinar serenamente as questões juntos, etc. Este é o método antidialético, mas a dialética saiu de cena em 1991, quando segundo Hobsbawm, terminou o curto século XX. Alguém tem tempo de revivê-la?
Igor Zanoni
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