quarta-feira, 20 de julho de 2011

A insustentável sustentabilidade

A insustentável sustentabilidade


A palavra da moda é sustentabilidade, que nasceu ligada à economia e à ecologia e hoje se estende por quase todos os aspectos da vida, até mesmo alimentação, bem estar emocional e outros. O problema é que esse uso abusivo colide com o dado fundamental de que a vida é impermanente, como ensinou há dois mil e quinhentos anos O Buda Sakyamuni . Mesmo com respeito à questão ambiental, não há soluções hoje. Talvez venha a ter no futuro, mas por ora não tem. E a insustentabilidade econômica não precisa ser realçada neste dramático início de milênio, quando um prestigiado ex-diretor do World Bank, Joseph Stiglitz, fala em erosão moral do capitalismo e as pessoas comuns estão saindo às ruas em várias partes do mundo, especialmente nos países centrais, contra a ortodoxia fiscal e financeira que quer absorver uma enorme bolha de dívida fazendo as pessoas trabalhar mais, por mais tempo, sem recompensas salariais ou de outra espécie. No Brasil também vivemos o paradoxo de uma herdeira política do popular e carismático ex-presidente Lula combater uma inflação, que não tem a ver com excesso de demanda, com elevação de juros, controle do endividamento das classes que encontraram no crédito uma solução precária para suas necessidades e sonhos de consumo, bem como corte dos gastos públicos, deixando mesmo de conceder reajuste real ao salário mínimo que é salário crucial no mercado de trabalho e para os aposentados. A sustentabilidade ligada ao wellness, melhor nem falar. Li uma entrevista de um gênio dando dicas sobre como viver sem os problemas que a maioria tem: “Controle todos os aspectos de sua vida”. Isso é lá conselho, quando a maioria precisa e quer se descontrolar para encontrar outras maneiras menos antiquadas e inóspitas de tecer relacionamentos, encontrar prazer na vida e se sentir menos culpada pelo que nem fez? Você pode comer melhor, se exercitar, meditar é ótimo, amar de verdade continua sublime e difícil, mas mesmo assim você um dia vai morrer, nem que seja com cento e cinquenta anos, talvez de Alzheimer. Se for assim, se isto já está decidido, melhor pensar em outas coisas. Os sábios encontraram sua fonte de sabedoria no amor ao próximo, não no egoísmo esclarecido, se é que isso existe.

                                                       Igor Zanoni

Um comentário:

  1. ...o egoismo exclarecido ou o amor ao próximo?

    Quanto a morrer independente de com quantos anos não é mais que um ciclo da existência e não ha mal nenhum nisso, o que penso seja sempre danoso é a sensação de uma vida mal vivia presa a relações doentias.

    Instituiu-se um ‘certo’ pra todos, e isso não existe, em se tratando de qualidade de relacionamento.

    Conceitos que se manifestam através da educação proveniente de várias fontes como família, religiões, escolas, filosofias podem ser temporais e regionais.

    Em todos os seres com boa capacitação intelectual, espiritual e discernimento existe inerente a rota a ser seguida, a questão é que boa parte de nós tem medo e preguiça da mudança, de ser considerado louco por vezes.

    E o que vem a se a tal loucura, embora não desmereça padrões realmente nocivos, em certos grupos a loucura mais não é do que a coragem de ser leal a seu bem estar e isso bem poderá ser a vontade de romper com um casamento de 30 anos, por exemplo, e ponto.

    Assim como se desligar de um emprego que por conceito lhe traga estabilidade financeira, mas ao mesmo tempo uma conta de farmácia imensa no fim do mês.

    Que droga é essa de falta de coragem de colocarmos nossa cara a tapa.

    Danem-se os padrões sociais do certinho, sou muito mais o amor ao próximo e a mim mesmo com toda a certeza.

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