Culpa
Muitas vezes não conseguimos nos perdoar mesmo que passem muitos anos depois de uma deficiência nossa. Que nem mesmo é sempre uma deficiência, vista pelos olhos de um terceiro, mas para nós é uma marca indelével. Por exemplo, quando uma pessoa com a qual nos envolvemos passa por uma situação muito séria e leva nossas próprias esperanças. Agimos da melhor maneira possível, mas sempre parecerá pouco, daí a culpa. Nós mesmos estamos transtornados e precisando de ajuda para atravessar com a pessoa que amamos a situação que ambos vivemos, mas mesmo que venha essa ajuda intimamente nos condenamos. Estas culpas aparecem nítidas no sonho ou em outros relacionamentos. Chamo a isto de complexo de superioridade monoteísta: temos obrigatoriamente de ser aptos para a cruz, de comer o pão e beber o vinho e sofrer depois até a ressurreição. Não podemos nos retirar desse quadro arcaico, mítico. Ele está no mais fundo de nossas emoções. Temos de ser heróis, mais que heróis, absolutos mesmo quando quase abandonados. Este castigo não é redimido pela ressurreição porque também não a permitimos. Vagamos com o rótulo na testa: culpado.
Entretanto, quantas vezes o mundo desaparece sob nossos pés, não temos chão, o rio é fundo demais. Essa é a nossa condição, talvez não de todos, mas de muitos dentre nós.
Igor Zanoni
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