domingo, 27 de novembro de 2011

Amar


pelo menos os neuróticos como eu vivemos em um mundo sem muito amor e sem prazer. sustentamos muitas vezes situações adversas por longo tempo sem acreditar que prometam mais do que estão dando e ficamos assim. também as pessoas que amamos são objeto de curiosa e intensa  expectativa, de que ajam como sonhamos ou falem a palavra que esperamos, mas é claro que nada disso acontece. e há mesmo pessoas que nos amam, desde que nos contentemos em permanecer nos seus parâmetros e aí ou sofremos e mantemos uma relação ambígua ou deslizamos culpados para fora, retornando de vez em quando, tentando adormecer com muitos comprimidos de rivotril, ou eventualmente deslocando o outro para dentro do nosso âmbito, e aí sendo feliz enquanto o outro decididamente não pode. a teimosia não vence muitas batalhas, se é que já venceu alguma. às vezes sabemos o que se passa, estamos a ponto de dizer, mas crises temperamentais do outro, dos filhos, dos que estão em volta de diversas formas, nos tornam covardes. é melhor ir embora que fazer uma carreira no Itamarati para suportar algum desses que estão em volta. muitas vezes são intocáveis, já experimentou desdizer uma matriarca como sua sogra ou um prepotente como seu pai? por isso nós neuróticos lembramos o velho adágio: “viver é perder amigos” e, é claro, ilusões de amor, de paz, de felicidade. mas dá para manter o bom humor se tivermos paciência suficiente.

                                                        Igor Zanoni

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