terça-feira, 29 de novembro de 2011

Pesadelo

 
As últimas eleições presidenciais no País passaram como um longo pesadelo. Vizinhos se tornaram inimigos, famílias se desavieram pelo medo de que o aborto fosse legalizado, como se já não o fosse, nos quadros legais existentes, ou que o casamento gay fosse aprovado, o que não é um problema moral ou religioso, mas um simples regulamento para que casais homossexuais legalizem sua situação patrimonial. Em outras eleições os sem terra foram elevados á distinta condição de inimigo número 1 da ordem capitalista, esquecendo a Pastoral da Terra e o longo curso teológico em que bebem as reivindicações por terra no Brasil, mais importantes que tons socialistas ou marxistas. Apesar de eu não ser o primeiro a defender o atual governo Dilma, não serei também o primeiro a atacá-lo. Os interesses dominantes no Brasil concentram-se na mídia, e no seu poder de convencimento sobre os mais desavisados, referente a tudo que se passa no mundo. Ao lado dele, há os interesses do sistema financeiro, com sua garra sobre o que se faz  em termos de política monetária e fiscal. Há ainda os interesses dos setores exportadores onde se destaca o agronegócio que hoje ameaça a Amazônia e produz anualmente enormes extensões de terra inutilizada pela selvageria da agricultura tecnificada e oligoplizada. Os outros interesses pouco contam. Faz-se o bolsa família, aumentam-se um pouco os salários reais de aposentados, repõem-se vagas no setor público, mas tudo com comedimento. A presidente Dilma disse aos jornais que o Brasil hoje é “uma potência agrícola”. Ora, já éramos isso no século XIX, e pulamos por cima do esforço industrializante de Getúlio Vargas, Juscelino Kubistchek, entre outros, e esquecendo a destruição de nossa indústria e do patrimônio nacional, público e privado, pelo neoliberalismo de Collor, Sarney e Fernando Henrique Cardoso. A presidente tenta limitar a sanha do Banco Central, mas não pode parar Belo Monte, pois é obra central no PAC-Programa de Aceleração do Crescimento, visando fornecer energia para a produção de alumínio para exportação, de quebra inundando terras indígenas de diversas etnias e patrimônio cultural e linguístico. Poderíamos ainda falar no absurdo que é a transposição do São Francisco, obra momentosa de que quase se deixou de falar. As pessoas que pouco acesso tem à educação falam de um Brasil corrupto, de um País que precisa ser privatizado, como se repetissem tudo o que o Jornal Nacional prega. Isso é pior que música sertaneja, é um ultraje à inteligência de quem conhece o Brasil e sua história.

                                                            Igor Zanoni

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