Feiras de artesanato
No final do anos sessenta ou início dos setenta surgiram
também no Brasil as famosas feiras de artesanato ou feiras hippies, reunindo quem não queria viver
dentro dos valores e empregos dominantes na sociedade e levar uma vida diferente,
com maior liberdade pessoal, experimentos em drogas alucinógenas com um forte
teor religioso de outras culturas como a dos índios do deserto de Sonora dos quais
falava Casteñeda em seus livros ou Timothy Leary, o psiquiatra que fazia
experimentos com mescalina e LSD. O mundo era mundo mais liberal e parecia ser
possível uma sociedade alternativa, cantada por John Lennon e no Brasil por
Raul Seixas. Pois bem. As feiras hippies aconteciam nos domingos, ocupavam
praça como A praça de República em São Paulo ou a praça Carlos Gomes em Campinas,
lugares onde eu vivia na época, entre o segundo grau e o início da
universidade. O artesanato era muito criado, não usando peças pré fabricadas,
exigindo grande talento dos seus artesãos. Eram tão boas que eu ia mesmo com
papai, um sisudo major do Exército que adorava o clima da praça Carlos Gomes e os
quitutes vegans que podia comer ali. Aos poucos as praças foram mudando. foram
institucionalizada, um lugar na praça dependia do clientelismo dos vereadores,
e o artesanato original foi substituído quase completamente por peças compradas
na rua Direita e revendidas. as donas de casa de classe média aumentavam a
renda da casa com toalhas pintadas e camisetas com imagens convencionais da
Virgem Maria e de Jesus, sem nenhuma invenção no seu corte ou modificações na
sua confecção. as camisetas ficaram brancas, compradas na Hering e estampadas à
máquina, só. Os hippies se acabaram, e o movimento quase acabou ou tomou novas
formas, mal se distinguindo um hippie de um mendigo sem ideologia ou de um
adepto do imprevisível crack. Mas outra mudança radical foi a substituição do
parco artesanato ainda subsistente por produtos chineses. Nas feiras há quase
nada de artesanato, muitos chapéus no verão imitando com materiais grosseiros
os chapéus panamá, cintos, bolsa, pulseira, sandálias, colares, tudo da nova
cultura oriental. Foi o desmonte de qualquer símbolo do alternativo e contestatário.
Aí também se abriu o comércio mundial que parece abarcar tudo, inclusive o
artesanato. È uma pena em muitos sentidos. Mas restaram o pão integral e o
acarajé, os hare-krishna, um ou outro remanescente de um artesanato genuíno.
Igor Zanoni
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