sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Feiras de artesanato


Feiras de artesanato

No final do anos sessenta ou início dos setenta surgiram também no Brasil as famosas feiras de artesanato  ou feiras hippies, reunindo quem não queria viver dentro dos valores e empregos dominantes na sociedade e levar uma vida diferente, com maior liberdade pessoal, experimentos em drogas alucinógenas com um forte teor religioso de outras culturas como a dos índios do deserto de Sonora dos quais falava Casteñeda em seus livros ou Timothy Leary, o psiquiatra que fazia experimentos com mescalina e LSD. O mundo era mundo mais liberal e parecia ser possível uma sociedade alternativa, cantada por John Lennon e no Brasil por Raul Seixas. Pois bem. As feiras hippies aconteciam nos domingos, ocupavam praça como A praça de República em São Paulo ou a praça Carlos Gomes em Campinas, lugares onde eu vivia na época, entre o segundo grau e o início da universidade. O artesanato era muito criado, não usando peças pré fabricadas, exigindo grande talento dos seus artesãos. Eram tão boas que eu ia mesmo com papai, um sisudo major do Exército que adorava o clima da praça Carlos Gomes   e os quitutes vegans que podia comer ali. Aos poucos as praças foram mudando. foram institucionalizada, um lugar na praça dependia do clientelismo dos vereadores, e o artesanato original foi substituído quase completamente por peças compradas na rua Direita e revendidas. as donas de casa de classe média aumentavam a renda da casa com toalhas pintadas e camisetas com imagens convencionais da Virgem Maria e de Jesus, sem nenhuma invenção no seu corte ou modificações na sua confecção. as camisetas ficaram brancas, compradas na Hering e estampadas à máquina, só. Os hippies se acabaram, e o movimento quase acabou ou tomou novas formas, mal se distinguindo um hippie de um mendigo sem ideologia ou de um adepto do imprevisível crack. Mas outra mudança radical foi a substituição do parco artesanato ainda subsistente por produtos chineses. Nas feiras há quase nada de artesanato, muitos chapéus no verão imitando com materiais grosseiros os chapéus panamá, cintos, bolsa, pulseira, sandálias, colares, tudo da nova cultura oriental. Foi o desmonte de qualquer símbolo do alternativo e contestatário. Aí também se abriu o comércio mundial que parece abarcar tudo, inclusive o artesanato. È uma pena em muitos sentidos. Mas restaram o pão integral e o acarajé, os hare-krishna, um ou outro remanescente de um artesanato genuíno.

                                                               Igor Zanoni 

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