segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Raul Seixas


O Nordeste produz periodicamente Antônio Conselheiros, isto é, profetas que de uma secreta e alta investidura fazem a crítica do momento presente e anunciam novos tempos. A música popular brasileira não ficaria sem eles, como Caetano Veloso, Zé Ramalho e Tom Zé. Poucos, porém, com a coerência de uma vida dedicada a um rock messiânico como Raul Seixas. Suas ideias são as de sua época, e se encontram também em John Lennon, George Harrison, Mahavishnu Orchestra e assim por diante. Em particular, destaco a ideia de que a interação humana e com a natureza envolve um “segredo” não acessível à ideologia da sociedade industrial (faço eco a Marcuse, um pouco sério e um pouco jocoso), mas que pode ser compreendido através da prática da introspecção mística e transformado por comportamentos concretos alternativos. Por isso anuncia a liberdade sexual, por exemplo, e insiste na urgência de sua mensagem, como um evangelista, avisando a partida imediata do trem das sete horas que vai partir para a terra imaginária do “sertão”. Ou fala dos “sujeitos normais” que duramente lutam para pertencer a uma sociedade que requer deles sacrifícios repetindo o status quo e a falta de liberdade. Para estes ele canta sua “gita”, ecoando a epopeia indiana base da ioga clássica, demarcando que sua mística também não é a dessa sociedade individualista e competitiva. Sua ideia principal talvez seja a de que se deve construir um paraíso na terra, no qual as pessoas possam livremente seguir sua vontade sem romper a tessitura social. Disse isto e um pouco mais em um rock nacional autêntico, não copiado de modinhas românticas do início dos Beatles e longe da ingenuidade e fútil aparência de Roberto Carlos, dissidente falso de um sistema industrial recriado pela ditadura militar. Caiu amplamente no gosto popular, até hoje suas músicas sabem de cor os violeiros. Por uma questão de classe, a classe média alta jamais gostou de Raul. Ele pertence a raízes populares demais para isso. Ele queria transformar a si e ao mundo. Em uma bela canção, se diz o carpinteiro do universo e de si mesmo, síntese de uma obra dedicada á coerência e -por que não?- à esperança e à tragédia pessoal.

                                              Igor Zanoni

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