segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Pensar

Pensar
 
1
 
Ontem percebi uma propedêutica da comunidade Hare-Krishna enquanto almoçava a excelente comida indiana que ela serve aos domingos. Quando eu esperava ficar pronta a refeição, um rapaz gentilmente ofereceu ao meu filho e a mim um suco natural de uva com gengibre e açúcar mascavo. Meu filho agradeceu e recusou, e o devoto perguntou ao Tiago: “Este é um dos sucos que será servido na refeição. Você não gosta? Quer que traga outro? Como você quer seu suco?”. Mas o Tiago não queria estragar o apetite e continuou recusando, até se criar uma situação em que tive de intervir: “Não há contra o suco, amigo, apenas meu filho tem suas regras para comer”. “Mais tarde, após tomar os sucos dulcíssimos e comer um bolinho indiano feito com leite condensado e passado na frigideira com manteiga clarificada quente, à saída perguntei brincando a uma devota que recebeu nosso dinheiro:” Puxa! Vocês gostam mesmo de coisas doces!”“. Ela rebateu de pronto: “Gostamos! Alguma coisa não foi do seu agrado? Como podemos atendê-lo ao seu gosto?”. Esta é a convenção: oferecer o que eles usam no seu padrão de vida com gentileza, mas perguntando se você precisa de alguma concessão especial. Pelo menos por enquanto, na sua condição de visita.
 
2
 
Os mantras indianos antigos se repetem monotonamente ao infinito. O som em sânscrito é agradável, mas quando cantados em português soam para nós com uma retórica mal escrita e mesmo velha.
 
3
 
Muitos precisam seguir preceitos com obediência, para obter paz e encontrar um caminho para suportar a vida. Mais difícil e mais ao nosso controle é examinar esta vida com paciência, mesmo que se vista sem qualquer convenção nem use uma imagística com que não atinaríamos sós, pois de fato não pertence a nós, como não pertencem ainda os frutos da reflexão. Esta é nossa atualidade e nossa autenticidade.
 
                                                                     Igor Zanoni
 
 
 


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