Pensar
1
Ontem percebi uma
propedêutica da comunidade Hare-Krishna enquanto almoçava a excelente comida
indiana que ela serve aos domingos. Quando eu esperava ficar pronta a refeição,
um rapaz gentilmente ofereceu ao meu filho e a mim um suco natural de uva com
gengibre e açúcar mascavo. Meu filho agradeceu e recusou, e o devoto perguntou
ao Tiago: “Este é um dos sucos que será servido na refeição. Você não gosta?
Quer que traga outro? Como você quer seu suco?”. Mas o Tiago não queria
estragar o apetite e continuou recusando, até se criar uma situação em que tive
de intervir: “Não há contra o suco, amigo, apenas meu filho tem suas regras
para comer”. “Mais tarde, após tomar os sucos dulcíssimos e comer um bolinho
indiano feito com leite condensado e passado na frigideira com manteiga
clarificada quente, à saída perguntei brincando a uma devota que recebeu nosso
dinheiro:” Puxa! Vocês gostam mesmo de coisas doces!”“. Ela rebateu de pronto:
“Gostamos! Alguma coisa não foi do seu agrado? Como podemos atendê-lo ao seu gosto?”.
Esta é a convenção: oferecer o que eles usam no seu padrão de vida com
gentileza, mas perguntando se você precisa de alguma concessão especial. Pelo
menos por enquanto, na sua condição de visita.
2
Os mantras
indianos antigos se repetem monotonamente ao infinito. O som em sânscrito é
agradável, mas quando cantados em português soam para nós com uma retórica mal
escrita e mesmo velha.
3
Muitos precisam
seguir preceitos com obediência, para obter paz e encontrar um caminho para
suportar a vida. Mais difícil e mais ao nosso controle é examinar esta vida com
paciência, mesmo que se vista sem qualquer convenção nem use uma imagística com
que não atinaríamos sós, pois de fato não pertence a nós, como não pertencem
ainda os frutos da reflexão. Esta é nossa atualidade e nossa autenticidade.
Igor Zanoni
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