quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Remédios


Hoje as drogarias são um ramo concentrado e em expansão, mas em minha infância, até os onze anos, precisei de poucos medicamentos, que eu mesmo administrava. Talvez porque eu vivesse em um ambiente saudável em casa, em uma cidade serena na entrada do Pantanal. O risco que correria era a desidratação se fosse mais pobre, as verminoses (a giardíase quase matou papai), contras as quais havia vermífugos que se tomava regularmente, ou uma cobra, mas elas preferiam o mato espesso. Quando tinha insolação ou minhas costumeiras dores de garganta, ministrava um envelope de Pyramidon a mim mesmo (depois o remédio foi proibido, talvez por conter alguma substância caída em desgraça). Da mesma forma, curava dores de barriga com dez gotas, que contava judiciosamente, do refrescante Elixir Paregórico, que também foi retirado da praça por ser derivado do ópio. Uma vez ou outra a garganta não sarava, e papai me dada umas pastilhas, de colocar sob a língua de sulfa, horríveis. Acho que foi só.Na adolescência passei a tomar Efortil porque minha pressão se tornou muito baixa, e passava muito tempo na cama com dores de crescimento. Tudo isso era recomendado por meu pai. Ele achava que em casa era ele que sabia da saúde de todos. Tinha um modo psicológico de encarar a questão, por exemplo, impedindo que um dos meus irmãos, que tinha asma, tomasse anti-histamínicos por mais tempo. Isso a seu ver era uma fraqueza de caráter, pois o anti-histamínico era um sedativo e meu irmão precisava ser mais forte face à vida. Depois as coisas pioraram e os remédios venceram meu pai. A indústria farmacêutica era poderosa demais para um homem das antigas como ele.

                                                      Igor Zanoni

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