Hoje as drogarias são um ramo concentrado e em expansão,
mas em minha infância, até os onze anos, precisei de poucos medicamentos, que
eu mesmo administrava. Talvez porque eu vivesse em um ambiente saudável em
casa, em uma cidade serena na entrada do Pantanal. O risco que correria era a desidratação
se fosse mais pobre, as verminoses (a giardíase quase matou papai), contras as
quais havia vermífugos que se tomava regularmente, ou uma cobra, mas elas
preferiam o mato espesso. Quando tinha insolação ou minhas costumeiras dores de
garganta, ministrava um envelope de Pyramidon a mim mesmo (depois o remédio foi
proibido, talvez por conter alguma substância caída em desgraça). Da mesma
forma, curava dores de barriga com dez gotas, que contava judiciosamente, do
refrescante Elixir Paregórico, que também foi retirado da praça por ser
derivado do ópio. Uma vez ou outra a garganta não sarava, e papai me dada umas
pastilhas, de colocar sob a língua de sulfa, horríveis. Acho que foi só.Na
adolescência passei a tomar Efortil porque minha pressão se tornou muito baixa,
e passava muito tempo na cama com dores de crescimento. Tudo isso era
recomendado por meu pai. Ele achava que em casa era ele que sabia da saúde de
todos. Tinha um modo psicológico de encarar a questão, por exemplo, impedindo
que um dos meus irmãos, que tinha asma, tomasse anti-histamínicos por mais
tempo. Isso a seu ver era uma fraqueza de caráter, pois o anti-histamínico era
um sedativo e meu irmão precisava ser mais forte face à vida. Depois as coisas
pioraram e os remédios venceram meu pai. A indústria farmacêutica era poderosa
demais para um homem das antigas como ele.
Igor Zanoni
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