domingo, 31 de maio de 2015

Ruptura



uma relação significativa se rompe por ser instável, dolorosa, confusa, impossível de ser bem meditada ou reparada pelo pensamento. o cuidado já não se coloca, o lugar no mundo e no tempo é recusado, buscando-se uma abertura pessoal ainda que custosa para todos. no mínimo bola prá frente, deixar rolar, e alguém soletra que se deve buscar o que nos faz bem. pode-se ou se sabe minorar o sofrimento, substitui-lo por conforto e paz? erramos por aí confusos, e esperamos, esperamos o que? tédio, banalidade, como somos hábeis em cultivar vidas tolas!

                                                     Igor Zanoni 

Liberdade

não somos indivíduos abstratos
vivendo possibilidades escolhidas
somos antes laços vínculos
tão atados tão conflitados e incompatíveis
não deveríamos fazer promessas
nem exigir promessas de outros
nós queremos mas a vontade não vale tanto
usamos ardis
em silêncio nos enroscamos na esperança
mas como deixar o que gostosamente somos
apesar do que nos custa?
com certeza não calculamos nem poderíamos
no fim das contas vivemos o que podemos
esta é nossa fortuna
como a amamos!
se isto não basta lembremos que a vida
é um teatro
no teatro se pode rir e chorar
muitas pessoas não gostam de chorar
mas talvez alivie o peito
e o teatro está fechado por fora
sem que a peça possa ter um fim


                                                         Igor Zanoni

China



quando afinal formos todos chineses
quero ser Charlie Chan
lembrando sempre que “Confúcio disse...”
descobrirei entre dois comerciais
o x do problema

                                                                 Igor Zanoni

sábado, 23 de maio de 2015

Drummond



na capa de uma coleção de poemas
Drummond parece severo ainda que moço
seus óculos são retrô como os que eu mesmo uso
aros grossos e lentes que suportam
sua visão que tudo do mundo viu
assim eu seria se atravessasse o século xx
e ponderasse sobre o caminho
que o mundo não escolheu
para desgosto do poeta e dos que no mundo
ora vivem tristes e já sem as ilusões
que tanto brotaram no silêncio dos séculos
em poetas e trabalhadores digamos
sentados diante do seu copo
após seu árduo dia
mas eu sou outro e já não sei quase
o que sei o que sinto ou vejo
após meu árduo dia
diante do meu copo
e me pergunto também se poemas
ainda são precisos
ou por que escrever ainda poemas
em um mundo já sem caminhos

                                                                 Igor Zanoni

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Mocinha da padaria

mocinha do caixa da padaria
me bateu fissura desse café expresso vaporizado
folga às sextas se ninguém der mancada
você faz as unhas quando?
quando vai ao salão?
esse chocolate é caro você acha que é bom?
dizem que hoje nem o chocolate está bom
eu faria um poema se pudesse te mandar numa mensagem
que tipo de poema você gosta?
como você se diverte?
você veio de Minas mas reparou
como tanta gente vem hoje do Haiti do Japão da China
até a França anda mandando gente
por que você não vai para a Austrália?
dizem que lá ninguém te mata
todos te tratam bem e pagam um bom salário
acha que emprego anda dando em árvore?
pois lá na Austrália é diferente
o mundo não é o que parece
veja só eu entrei por acaso um dia
só para dar um tempo
e agora bate sempre essa fissura
menos na sexta porque você não está
legal a gente estar aqui trocando essas ideias todas
parece que a gente está fazendo um filme


                                                                         Igor Zanoni