terça-feira, 5 de maio de 2015

Quase memória

este título emprestei do livro de Carlos Heitor Cony sobre suas memórias, entre o real e o onírico, de seu pai. eu não posso entretanto sonhar com a maestria de Cony para falar de minhas próprias memórias, não apenas de meu pai, talvez a pessoa mais importante em minha vida, ou de meu avô Felippe, o homem mais carinhoso e divertido que conheci. entre outras circunstâncias, vovô era detetive da Polícia Federal, e se orgulhava de ser um tira federal como Elliot Ness. vestia invariavelmente um terno cinza e chapéu, com uma elegância dada por sua magreza e altura. nada nele denunciava um policial, e isso fazia parte de seu ofício. mas sob a lapela esquerda do terno usava um distintivo escondido reivindicando sua condição. várias vezes vi acontecer algo enquanto andava com ele, e quando o caso podia lhe dizer respeito aproximava-se e com severa serenidade, levantava a lapela esquerda e dizia: Polícia Federal. isso bastava, para mim bastava muito, era mesmo o máximo.


                                                       Igor Zanoni

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