quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Moby Dick

Moby Dick


a literatura norte-americana cedo começou a apresentar obras e autores de grande valor, talvez pelo componente religioso puritano, capaz de dar uma dimensão trágica a quase todos os aspectos da experiência humana. em Moby Dick por exemplo há inúmeras ressonâncias bíblicas, como o o capitão do Pequod chamar-se Acab, rei israelita que introduziu deuses cananeus em sua terra, perseguiu profetas e terminou morto de modo exemplar pela justiça divina, tendo seu sangue lambido por cães. o livro todo se move entre vários paralelismos como este, mas creio que o principal é a luta de Acab contra o leviatã. em Jó, o leviatã é o grande animal marinho que Deus fez antes que o homem existisse, distante da habitação humana e vivendo sem dar contas a ninguém. por que Jó teria de compreender um deus que criou o leviatã e o behemot, como o homem pode exigir de Deus justiça por seus próprios argumentos quando não percebe a liberdade de Deus e sua face muitas vezes indisponível?
na próspera e arriscada vida da indústria de óleo de baleia, da qual o livro oferece um painel detalhado e magnífico, Acab, tendo sido mutilado pelo invulgar cachalote branco, busca justiça na morte do animal, comprometendo a vida de sua tripulação e deixando o negócio da baleia e a vida comum para vingar-se através dessa busca. mostra-se assim arrogante, argumentando contra o leviatã que vive no imenso oceano tal como Deus o fez no princípio. Acab mostra-se ímpio e essa impiedade o mata. a sua luta é contra Deus. não poderia haver melhor exemplo, dentro de civilização que nascia, da necessidade de não colocar o negócio e a vida comum contra a insondável presença divina, de deixar a vingança como uma prerrogativa de Deus, e não do homem.

                                                              Igor Zanoni 

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