Mamãe estudou e aperfeiçoou a vida toda suas habilidades em corte e costura. Costurava com moldes, como aprendeu com outra exímia costureira, dona Leontina, esposa do mecânico de papai, seu Wilson. Até sair de casa eu nunca usei roupa comprada fora. Ela fazia para mim golas do tipo que o Ronnie Von usava, e calças justas como as do Roberto Carlos. Era uma mulher moderna. Aprendi muitas dessas habilidades com ela, pois hoje ainda sei cerzir, chulear, pregar um botão ou fazer costuras simples. Não sei o que aconteceu com os seus moldes, acho que minha irmã Ivone herdou. Aprendi a decorar as roupas que ela fazia, com pintura em tecido, strass e purpurina. Como passasse muito tempo com ela, aprendi outras artes como cozinhar o trivial, matar e depenar um frango, fazer uma farofa para recheá-lo e cortá-lo em pedaços sem osso. Também comecei a ir ao cinema com ela, para ver a Imperatriz Sissi e os filmes de Alain Delon, que na época achávamos o homem mais bonito do mundo. Papai às vezes cozinhava, uns vatapás com creme de arroz ou bacalhau ao forno que comíamos em ocasiões festivas como o Natal, bebendo uns goles de Casal Garcia. Mas o dia a dia era com mamãe. Depois soube que papai ia ao cinema sozinho ver filmes de James Bond. Foi uma decepção gosto tão raso. Mas mamãe nunca conseguiu, embora tentasse, aprender inglês. Não se recordava do vocabulário e das regras gramaticais. Na época havia um casal na igreja que havia vivido nos Estados Unidos e ensinava a língua aos irmãos. Eu não me preocupei com isso porque também não gostava de inglês. Meu forte era o francês. Quando comecei a faculdade li Descartes, Hume, Kant e outros em francês, sem problemas. Já meu querido Marx li nas edições castellanas da Siglo XXI e a tradução do Capital de Wenceslao Roces. O melhor da vida são essas pequenas coisas que nunca esquecemos. È o nosso luxo pessoal.
Igor Zanoni
Nenhum comentário:
Postar um comentário