terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Sobre a frequência à Igreja


A Igreja já há algum tempo enveredou por uma teologia e uma estrutura medievalistas, expressas na relevância dada à hierarquia, ao culto de Maria e dos santos, a valorização do sofrimento como via redentora, a luta contra quaisquer veleidades progressistas a favor do casamento não indissolúvel, o preconceito contra o aborto, a homofobia, a ojeriza diante dos movimentos sociais. Eu passei a me preocupar com a Igreja no pontificado de Paulo VI, o papa angustiado, e no de João XXIII, com seu sorriso acolhedor e humano tão propício à comunhão e ao diálogo entre as correntes cristãs e não cristãs, à reforma do culto, a preocupação e a ação contra a pobreza em suas diversas formas. A Igreja por lutas internas bárbaras se modificou, pegando uma carona nas ideologias conservadoras do final do século XX. Na Idade Média, a cristandade ocidental articulou uma sociedade e um poder que passavam por dentro da Igreja, sofisticou-se teologicamente fazendo uma opção intelectual por jesuítas, dominicanos e  outras ordens para as quais Francisco de Assis nada significava senão ignorância e voto à pobreza em um mundo que se devia intelectual e materialmente conquistar. Francisco que interpretou como ninguém em sua época os valores comunitários da igreja primitiva. Isso levou a rupturas que extrapolaram o terreno da Igreja, lançando as bases da Reforma, sua contraparte da Inquisição e Contra-Reforma, do preconceito científico e do obscurantismo. É isso que temos de volta, desde João Paulo II. Entretanto as pessoas frequentam muito mais as cerimônias católicas que há algumas décadas atrás, talvez porque o mundo haja lançado a maior parte das pessoas em uma falta de segurança e de esperança inéditos desde o século das Luzes. Vejo, entretanto, também cheia sempre a Igreja das Mercês, franciscana, muitos templos e centros budistas sérios e responsáveis, as igrejas evangélicas crescem não apenas na vertente pentecostal, mas também nas tradicionais Igrejas Presbiteriana, Batista, Metodista e muitas outras. Os partidos políticos se esfarinham, os governos e a política se desacreditam, o mundo parece dar razão a visões apocalíticas mesmo que midiaticamente venham dos maias(!), mas as pessoas se procuram, que pena em grande parte em uma Igreja que optou por uma ideologia do século XIII, mais ou menos, no que ele produziu de não tão bom.


                                                                     Igor Zanoni

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