domingo, 26 de fevereiro de 2012

Senso estético


Seu Luís, meu falecido sogro, era  um homem com um senso estético para viver a vida. Inquieto, fumava muitos maços por dia de cigarro, acordando para isso inclusive várias vezes à noite. Nunca deixou de ter êxito no que fazia. Teve a maior e mais aparelhada sorveteria de Maringá, montou um escritório de contabilidade grande e moderno, com máquinas elétricas de escrever, depois comprou uma picape e saia pelo Brasil recolhendo mudas de orquídeas e bromélias, em um tempo em que o Brasil era grande e não havia o Ibama, chegando a ter um dos maiores orquidários de plantas nativas. Fazia por hobby difíceis diagramas de palavras cruzadas que mandava para jornais, conhecia marcas boas de uísque e amava a música. Suas filhas estudaram muitos anos de piano, e seu maior prazer era chama-las para tocar para as visitas. Depois um dia a vida de desandada que estava terminou de desandar, mas nunca soube o que acontecia de fato com ele. Foi um poeta de atividades, um reinventor do inventado, um homem inconcluso, que ninguém acompanhou, muito menos sua família. Era extremado, pegadiço, exagerado. Sua família o mantinha a distância, e talvez por isso tenha tido outra família. Ao todo deixou seis filhas e um filho. Alguns o amaram, outros o aborreceram, mas sempre singular, nunca permitiu meias opiniões sobre si. Diante dele se optava pelo oito ou oitenta. Não deixou bens e seu túmulo ficou próximo da sua família de origem, longe das que criou.

                                                              Igor Zanoni

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