é difícil um exame objetivo do sistema por sua extrema viscosidade, que faz com ele se amolde à nossa pele e adentre o corpo, nervos e cérebro, espírito e matéria. além disso, por se situar sempre em terreno pantanoso, tornando também pantanosa nossa fala e nossa situação como examinadores que pretendem uma veleidade de autonomia e lucidez. em certas regiões ele se ergue em prédios automáticos e auto suficientes, em outras cobre ilhas e paraísos artificiais onde só penetram quem tem certas senhas secretas e chaves guardadas em bancos neutros e aparentemente inodoros, mas que exalam em certas ocasiões, que se vem alongando e repetindo, um cheiro nauseabundo e adocicado de matéria, vidas perdidas, desesperadas. noutras o sistema guarda um charme de ternos bem cortados e únicos, próprios para fotos glamourosas mesmo de pessoas idosas e gordurosas às quais se dedica o futuro da medicina. algumas vezes o sistema fala como uma mulher suave, em outras como a grande meretriz, que seduziu os trabalhadores na construção da grande Babel com promessas de liberdade e fartura. seus dilemas são irresolutamente discutidos em fóruns também secretos, onde se decidem as mesmas decididas decisões já antecipadas pelos que tem juízo de saber que nada será feito por qualquer espaço além daquele reservado por si mesmo ao sistema, não só completamente internacionalizado mas extra terrestre, extra galáctico. nós só contamos com nossas vidas mas como anódinos animais propiciatórios a damos em silêncios nos altares como se nossa carne fosse apetecível a quem só come turfas, e escargots.
Igor Zanoni
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