Quando perguntado onde está o reino de Deus, alguns traduziram a resposta de Jesus como “ ele está no seu coração”. Outros, atentos para o dado elementar que o nosso coração se faz todo dia, como tudo que é da nossa vida e do nosso dia, traduziram como “ele está entre vocês”. Acho isso importante porque conheço muitas pessoas bondosas, piedosas ( por assim dizer mais cruamente), apegadas aos santos e aos sacramentos, à liturgia, às orações tradicionais e ao calendário da Igreja. Procuram não praticar senão o bem, na medida do possível, colaborar com os outros, mas sua fé é sobretudo intimista e legalista, chegando a achar que a solução para os males do mundo ainda é o terço e a água-benta. Muitos sentem a presença de deus em seu coração, anseiam por um desvelar exterior do seu reino, mas se atém aos conflitos intra e inter eclesiais e religiosos. A missa e a confissão é o cerne da vida deste cristão, supondo que seja cristão e católico romano. Todavia outros percebem que os atos cotidianos tecem relações entre massas humanas e homens individuais, e que o reino de Deus está distanciado desse inter-relacionamento. O reino entre nós significa sobretudo a centralidade do leigo, o trabalho e a oração conjuntos, nos agrupamentos para os quais a fé é meio de perceber o lugar do homem no mundo. Muitos relutam em adotar essa visão por achar que a política é suja, corrompida, e em larga medida é. Mas a política dos atos cotidianos, do passar os dias sob esta ou aquela condição, o cotidiano, a sexualidade, a saúde, a educação, o sentido do trabalho, tudo isto e muito mais é também uma questão política, e precisa da nossa atuação consciente, pensada, examinada. A política não se resume a eleições e como tirar algum ganho delas. A política começa entre nossas mãos, e entre essas mãos, penso, está o reino de Deus, que tem uma dimensão escatológica que começa todavia agora.
Igor Zanoni
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