muitos estudantes meus detestam matemática e cálculo,
alegando que não servem para entender as ciências humanas ou mesmo a economia.
é curioso lembrar que Marx e Schumpeter, que absolutamente não precisavam disso
para sua própria visão do capitalismo e sua civilização, estudaram sim cálculo.
no caso de Schumpeter, isso talvez tenha ocorrido por pressão dos seus colegas
norte-americanos, mas no caso de Marx, algo diferente deve ter acontecido. Marx
não gostava de economia, como declarou em carta a Engels após publicar o volume
I de O Capital. mas gostava imensamente de ciência e acompanhava o que
acontecia na área, como se sabe por suas leituras de Darwin e Lewis Morgan,
entre outras. Engels chegou a fazer uma tentativa de indicar que a natureza não
seguia uma lógica formal em sua própria história, como se pode ler em Dialética
da Natureza. Marx também não pensava, como Hegel, que “todo real é racional”,
mas antes que “tudo que existe merece perecer”, tratando-se do modo de produção
capitalista e de sua própria racionalidade. em uma discussão gritou que “ a
ignorância não ajuda ninguém !” e era o que minha amiga Selma Lamas chamaria
provocativamente um “gnosiófilo”: gostava de estudar e conhecer tudo que
pudesse estudar e conhecer. Sabia peças e poemas de Shakespeare de cor, e sua
frase favorita, não por acaso, era “nada que é humano me é alheio”, dita por
Goethe. Marx achava importante e divertido estudar, algo muito natural em um
grande doutor alemão, mas que pode ser muito bem imitado qualquer pessoa.
Igor Zanoni
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